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Publicado: Segunda-feira, 5 de novembro de 2001

NINGUÉM PODE AVALIAR QUANTO DURA UM SEGUNDO DE SOFRIMENTO - GRAHAM GREENE

É mais fácil preocuparmos com os problemas alheios do que com os nossos
   próprios problemas e hoje praticamente sabemos quase tudo sobre o
   Afeganistão e sua sofrida população. A nossa grande imprensa diariamente
   nos mostra em destaque os ataques americanos ao Afeganistão, o sofrimento,
   a miséria, a fome, por que passa esse pais. Em contrapartida vemos o medo e
   o pavor dos americanos com o antraz e com as consequencias de uma
   contaminação e de novos atentados , trazendo essas notícias em cadernos
   especiais.
   Mas queria perguntar, o porque de nos reocuparmos tanto com esses problemas, embora seja o assunto do momento, da moda, e nos esquecermos dos problemas existentes em nosso pais, que são inúmeros e tão graves e que tanto afligem a maior parte da nossa população, como a miséria, violência,
   corrupção, injustiça social, etc.
   Temos educação e segurança pública de péssima qualidade e a pobreza combinada com a falta de empregos e perspectiva de uma vida melhor, estão
   tornando o Brasil e a nossa juventude uma das mais violentas do mundo.
   O nosso presidente FHC foi ovacionado em Paris, pois, em seu belo discurso entre outras coisas, disse que, o Brasil já perdoou dívidas de países mais
   pobres e que o mesmo tratamento deveria ser dado a outros países endividados, pelos países mais ricos, incluindo ai, o próprio Brasil e que a barbárie não é somente a covardia do terrorismo, mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais.
   Entre o discurso e a prática do que acontece em nosso país, vamos aos fatos:
   Na grande São Luiz (Maranhão), 21 crianças foram assassinadas, algumas com os órgãos genitais extirpados, e a nossa grande imprensa deu a notícia como um fato corriqueiro e sem importância e sem que se apurem os culpados pelo acontecido, embora essa rotina aconteça a mais de 10 anos.
   Essas crianças moravam na periferia, onde não existia saneamento basico, telefones, posto policial e de saude e transporte coletivo( Folha de São
   Paulo). Que perspectiva de vida essas crianças podem ter no futuro, se no meio onde vivem so conhecem o terror e a violência.
   Ficamos indignados quando uma pessoa conhecida é sequestrada, como o empresário Silvio Santos e sua filha ou quando uma autoridade como o prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos é assassinado, e dai toda a mídia da destaque. mas quantos assassinatos e sequestros são praticados
   diariamente.
   Segundo o Ministério da Saúde temos 7000 homícidios por mês, o que representa um atentado ao World Trade Center por ano, 6000 assassinatos por mês equivalente a outro atentado por mês, e a tudo assistimos com receio, temor e sem reação.
   A Folha de São Paulo em 07/10, diz que pesquisa mostra que o Brasil é mais desigual no governo FHC, porque aumentou a concentração de renda no país. Em 03/11 diz que investimento em saneamento caiu 80%, embora cada R$ 1 gasto em saneamento representa uma economia de até R$ 5 em saúde pública (Fonte: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).
   No Brasil segundo o Ministério da Saude, 108 mil crianças morrem anualmente, antes de completar o primeiro ano de vida. Isso equivale a quase
   2 (dois) World Trade Center por mês e a falta de investimentos em saneamento básico muito contribui para esse número.
   No Brasil temos 44 milhões de pessoas sem água encanada; 22 milhões sem luz elétrica; 15 milhões sem teto; 105 milhões sem telefone e 158 milhões sem internet. Fonte Veja.
   Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos, diz que estudos de organismos internacionais, apontam a incompatibilidade do crescimento econômico,
   competividade e ética com a péssima distribuição de renda e a ignorância. O que inibe investimentos externos em qualquer pais é a miséria, a falta de
   educação, a violência e a corrupção.
   O que dizer da greve do INSS, do Poder Judiciário, das universidades públicas ( a mais de 70 dias), e que tanto transtorno causam a todos nos
   cidadãos. Não deveríamos estar discutindo e cobrando uma solução por parte das nossas autoridades, que quando querem, criam e aumentam impostos, editam medidas provisórias, com uma rapidez incrível e quando precisam solucionar
   os problemas, os empurram com a barriga?
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