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Publicado: Sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Nas asas do coração alado

Muita gente acredita que ser livre é estar sozinho. Minha experiência é outra. Acredito que liberdade não tem nada a ver com estar ou não com alguém, mas sim com o que se passa dentro de nós.
Lentamente, tenho aprendido que não há liberdade maior do que ser o que queremos ser, fazer o que queremos fazer, dizer o que queremos dizer, e principalmente amar incondicionalmente.
Quando reflito sobre liberdade e transporto esse sentimento para o meu cotidiano, vejo que é muito mais simples do que parece. A liberdade não está em algum lugar, em alguma coisa ou em alguém. Ela mora na nossa escolha de viver a vida que sonhamos, abrindo mão de agradar a todos, desapegando das nossas expectativas e semeando compaixão e amor.
Nas últimas semanas, experimentei o sabor da liberdade duas vezes. A primeira, foi quando tive coragem de entrar em um lago de noite, em um local que viajo constantemente. Há mais de dois anos eu experimento a vontade de fazer isso, vendo meus amigos, mas sempre sem coragem de entrar. Na última vez que viajei para esse lugar, eu pensei: “É hoje!” Foram momentos de pura alegria, com a água lavando as minhas crenças sobre perigo e trazendo o frescor da confiança. Aprendi que liberdade é isso: dia a dia, realizar pequenas conquistas.
A segunda vez foi na semana passada, quando decidi largar os meus afazeres de mãe, esposa e amiga, para fazer uma coisa que eu realmente queria muito. Fui conversar com uma mestra norte-americana, que me recebeu em São Paulo, antes de voltar para a sua terra natal. Que experiência!
Parece besteira, mas quantas vezes nós deixamos de fazer as coisas que tanto queremos, por não conseguir dizer “não” para as pessoas que amamos? Quantas vezes nos privamos de viver coisas importantes para não brigar, ou para agradar os outros, ou para não decepcionar, ou porque nos sentimos culpados? Pior: quantas vezes deixamos de viver o nosso sonho porque caímos na armadilha de nos acharmos insubstituíveis?
O sabor que eu tive nesse final de semana não tem preço. Voltei para a minha casa renovada, cheia de sorrisos no rosto. E descobri uma coisa tão óbvia, que chega a ser invisível: não há nada melhor a fazer pelos outros do que alimentar o nosso sonho.
Viver a liberdade é o melhor presente que podemos ofertar aos nossos entes queridos. Assim, estamos ensinando-os a acreditar em seus próprios sonhos e vivê-los sem tantas culpas ou amarras. Estamos ensinando que o elo da vida é feito de encontros e não de renúncias, que o amor pode ser vivido na leveza e não no sacrifício.
Para cada pessoa, a liberdade tem um endereço. Mas todos nós nos irmanamos nos sentimentos comuns a todos: medo, amor, culpa, desejo, raiva, alegria, gratidão... Não há quem desconheça essas emoções, estamos todos diante da incansável busca de encontrar o nosso coração alado.
Mas é preciso se preparar para a liberdade: descortinar lentamente a vida sem fronteiras, visitar a amplidão de nossa existência, abrir portas e janelas da nossa alma. É necessário aprender a ver além do que os olhos conseguem enxergar, abrir mão das crenças e hábitos que nos aprisionam, para ir em busca do nosso verdadeiro sonho de vida.
Viver isso dentro de casa, no trabalho, na vizinhança, na família, nas amizades, no relacionamento com o parceiro e com os filhos é o grande desafio. Não há maior liberdade do que essa.
E você? Quando se sentiu livre pela última vez?

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