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Publicado: Segunda-feira, 11 de junho de 2007

Não violência como princípio

Parece-me que após o brutal crime que vitimou o menino João Hélio, no rio de Janeiro, houve uma escalada de violência no país, em particular no rio de Janeiro. O assassinato do garoto, nas condições em que foi praticado, chocou a todos nós. Na verdade qualquer assassinato já é um ato de selvageria, uma atitude animalesca, uma ação indigna de seres que se auto proclamam superiores entre os animais.
 
Quando li nos jornais e vi na TV sobre o brutal assassinato do menino carioca, também fiquei muito alterado; por alguns momentos, não sei se algumas horas ou até um dia, fiquei tão revoltado que me passou pela cabeça a idéia de que não há solução para assassinos com esse grau de indiferença com relação à vida humana. Lembro-me de que numa das notícias, o repórter dizia que um motoqueiro perseguiu o carro e avisou os agressores de que havia uma criança presa ao carro e a resposta teria sido de que era apenas um Judas de pano.
 
Nesses momentos de grande impacto, de comoção, todos somos impelidos a raciocinar no sentido de fender pena mais duras, redução da maioridade, pena de morte ou mesmo dar direito aos próprios policiais para que pudessem simplesmente eliminar esses agressores. Nesse sentido, até o ilustre filósofo, Renato Janine Ribeiro, professor da USP e diretor da CAPES, defendeu a pena de morte em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo. Não só defendeu a pena de morte, como também defendeu que os responsáveis deveriam ter uma morte lenta, sob torturas medievais.
        
Depois disso, muita polêmica foi criada em torno do assunto. Vários articulistas de vários jornais escreveram criticando o artigo do Professor Janine. Passadas algumas semanas, notamos que as questões continuam ainda na pauta. Parece que a violência, as mortes brutais, os crimes hediondos cometidos no Brasil já fazem parte do nosso cotidiano. Já estamos anestesiados com tudo isso. Morreu o João Hélio, mataram a menina Alana, de 12 anos, poucos dias antes outra garota de 13 anos foi atingida e ficará paraplégica, depois foi a professora Matilde, depois o gari Eduardo, o aposentado Cléber e representante comercial Ricardo. Parece que chegamos ao Apocalipse.
        
Quando olhamos com um pouco mais de isenção, sem os sentimentos de revanche (também violentos) que nos ocupam quando lemos sobre esses fatos, percebemos que há duas questões envolvidas. Uma primeira, não há dúvida, é de cunho social. O Brasil é um dos países campeões do mundo em desigualdades sociais. Achar que não é essa uma das causas, é burrice. A miséria assola o país, uma multidão de pessoas mora em favelas e esses não têm acesso aos serviços básicos de saneamento, saúde e educação. Aí eles assistem as belas novelas da Globo, o Big Brother e todo esse conjunto de cenários maravilhosos. Creio que no íntimo, talvez até inconscientemente, eles se perguntam: Por que eu não tenho?
        
A segunda questão que permeia isso tudo é um pouco mais complexa. Se só a redução das diferenças sociais resolvesse, então não teríamos crimes cometidos por jovens da classe média, não teríamos crimes violentos em países de algo grau de desenvolvimento, sectarismos em países europeus em que as condições de vida da população são infinitamente melhores do que as nossas. Creio que isso tem a ver com a imperfeição humana, com nosso lado animal ainda não civilizado ou domesticado, não sei qual termo seria melhor.
        
As estatísticas mostram que a pena de morte ou outras penas mais severas não resolvem o problema. Há estados americanos nos quais a pena de morte faz parte do rol de medidas legais e, no entanto, isso não baixou os índices de criminalidade ou de violência. Assim, a solução é outra: educação, saúde, emprego, solidariedade, fraternidade...
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