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Publicado: Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Não melhoramos nada desde Nero

Lindenberg na cova dos leões.

Um professor que frequenta este espaço me motivou a escrever este texto. Esse professor é um dos que faziam parte da turba ensandecida em frente das TVs. Outros portavam até cartazes pedindo a pena máxima para o Lindenberg.

Uma enxurrada de observações enfurecidas, pedindo pena máxima, como se fosse esse o problema do mundo e estaria nessa condenação a solução para os crimes do mundo.

Lembro que pessoas pedem penas para acusados tão cruéis e desumanas que faz dessas pessoas iguais ou piores que o criminoso. Tudo em nome de uma “justiça”.

A TV Record e o Datena fizeram do caso uma festa como nos circos romanos. Nos circos, o imperador Nero colocava pessoas que cometiam o crime hediondo de seguir Jesus. Um homem que oferecia risco ao estado como um todo. Não eram criminosos comuns. Risco de promover o amor, a igualdade social. Eram os cristãos. A turba assistia os seres destroçados tingindo o chão da arena em urros de gozo e prazer coletivo.

Quando eu ouvia os gritos do Datena e a insistência dele, vi ali encarnada aquela turba do Império Romano. Nenhuma emissora fugia muito, mas o programa do Datena e a TVRecord eram as mais enfurecidas.

Não mudamos nada do tempo de Nero. Não melhoramos nada. Colocam um criminoso para ser estraçalhado diante das câmaras. Se alguém nunca teve descontrole emocional, se ninguém teve ódio irracional, mágoa e vontade de se vingar e matar um desafeto, que atire a primeira pedra.

A situação do crime com muita movimentação, muito desespero e muito descontrole total, a pressão com certeza, teve um fim previsto e pressionado. Comum e acontece todo dia alguém dizer “se ela não for minha, não será de ninguém”. Uma fraqueza comum não perdoada se ninguém passou por uma situação de separação dolorosa, que se não justifica um crime, mas explica.

Não julgueis para não serdes julgados. Quem de vós não tiver pecado, que atire a primeira pedra. No caso do Lindenberg, parecia que o único criminoso da face da terra era ele. Se fizerem com ele na prisão o que o Datena pede sempre, que é morrer de fome e sede em morte lenta e dolorosa depois de passar por várias sessões de espancamento pelos outros presos, estará resolvido o problema do crime nos seres humanos? Justiça não é circo. Nâo é vingança.

O Datena sempre reclama que pagamos o que os presos comem. Reclamam entre outras coisas que ele não chorou. Nem teria mais lágrimas, mas faltou isso para o Datena e a TV Record.

Está destruído, estamos todos, uma vez que professores estão entre a turma que rangiu os dentes babam e pedem mais sangue e lágrima.
Cão danado, todos a ele. Temos o circo do Império Romano, agora mais moderno, apresentado pela televisão.

Ainda dizem que somos a imagem e semelhança de Deus.

Eu estou envergonhada.
 

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