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Publicado: Domingo, 13 de julho de 2008

Não me venha com firulas

Crédito: Google Imagens Não me venha com firulas

Certo, muito certo quem diz que em boca fechada não entra mosquito – embora, dizendo isso, já esteja o dito cujo contraditoriamente abrindo a boca. Derivo a expressão popular para o papel e afirmo que página em branco quase sempre em branco mereceria ficar, abortar a idéia de um texto esquecível é um fardo a menos que se leva e que se impõe a quem lê, é uma contribuição que se dá para que o mundo continue sendo um lugar razoavelmente prático de se viver.

 

Pois digo, feitas estas considerações, que viva o café da manhã e sua função de alimentar, viva a aula de geografia e sua função de instruir, viva o sexo a intervalos regulares e sua função de procriar, liberar endorfinas, tornar os dois humanos envolvidos provisoriamente saciados e com baixos teores de neurose no trato social.

 

De que serve, convenhamos, a insistência em coisas sem serventia, que não caibam no porta-malas envoltas em plástico-bolha, não tenham manual do proprietário e não se ponham a acender seus leds indicadores de funcionamento quando pressionado o botão esquerdo do painel frontal?

 

Viva o pai que se engravata e sai à caça do leão de cada dia para sustentar as bocas que tem em casa, viva a mãe com suas panelas na fervura e seus tupperwares no freezer, viva a solidariedade providencial dos vizinhos a nos suprir com suas xícaras de açúcar.

 

Louvado seja o Louva-Deus em sua silenciosa missão na cadeia alimentar, bendito seja o Benedito, primo-irmão do Juvenal, aquele que entrega em mãos as contas do Credicard. Ergam-se bustos e confiram-se títulos de cidadãos beneméritos aos carrancudos engenheiros debruçados em cálculos e estruturas, a projetar pontes para que as hordas dos desocupados possam vagar com segurança. 

 

Soem todas as trombetas em honra e glória à barba bem escanhoada, ao dízimo recolhido pontualmente, às revisões automotivas feitas nos prazos previstos, aos sapatos que espelham o asseio do dono, aos esquecidos hábitos de levar um lenço ao bolso e trazer sempre um guarda-chuva à mão.

 

Corra assim o real da vida, ainda que tosca e sem quinhão de alento, mas vivida em carne viva. Rude que só vendo, regida pelas estações mal definidas, greves, partos prematuros e buracos na pista.

 

Abaixo a cantilena estéril dos poetas, a troca que o ator tem com a platéia, os compêndios filosóficos e as notas de rodapé. Exceção se faça a Los Hermanos, me dizendo agora, em meu dispensável MP4, que “sem você sou pá furada”.

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