Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Música, Negócios e Empregos à beira do Mississipi

     Na Bourbon Street não cabe mais ninguém. Uma multidão passeia pela rua mais famosa de New Orleans, carinhosamente chamada de NOLA, no feriado de Ação de Graças. No ar uma mistura de blues, jazz e maconha para o deleite dos apreciadores da música e dos adeptos da erva, ainda que não liberada para consumo na Louisiana. Apesar do ambiente agitado, as pessoas estão calmas, tanto pela presença da polícia como pelo efeito da marijuana.
     Nos inúmeros bares ao longo da Bourbon e nas vias paralelas uma alegria pulsante no ritmo das bandas formadas por grandes instrumentistas e vocalistas que agitam um público variado de turistas de muitas partes do mundo e repleto de americanos, a maioria negra, assim como os músicos no palco. A entrada na maioria das casas é livre, basta achar algum espaço e consumir uns poucos dólares de cerveja e uns petiscos. Um show que no Brasil custaria no mínimo 200 pratas. Os músicos colocam um balde para receber as gorjetas pelas performances e com cinco dólares você faz um justo reconhecimento aos artistas.
     Mas, não é somente nos bares que o show acontece: em muitas esquinas se encontra o pistonista, o saxofonista, o baterista de lata improvisada, o violinista e tudo mais que possa cativar o turista e arrebanhar uns trocados. Nola é uma festa 365 dias e noites.
     A cidade, berço do jazz, que completou 300 anos em 2018, foi arrasada em 2005 pelo furacão Katrina e por inundações que deixaram 1500 mortos. Em 2016, no entanto, após volumosa ajuda federal para a reconstrução da cidade, New Orleans recebeu 10 milhões de visitantes que, com muito gosto, despejaram 7,5 bilhões de dólares na Crescent City. O sonho de qualquer cidade: viver e enriquecer com a cultura e a musica, um negócio limpo, gerador de milhões de empregos e de fama e admiração.
     New Orleans é o resultado da fusão das culturas afro-americana, francesa, espanhola e caribenha. O caldo é quente, gostoso e deliciosamente divertido, tanto quanto as cozinhas cajun e creole do lugar.
      O Dia Nacional do Samba foi comemorado no Brasil em 2 de dezembro último. Em New Orleans são todos os dias de jazz e blues. Como entender que o Brasil não é capaz de criar uma estrutura para explorar a cultura musical abundante em nossa terra? Primeiro, a cultura aqui é percebida como assistencialista, não um negócio para empreendedores. Espera-se que o Estado proporcione saúde, educação, segurança e ...cultura grátis para todos. Os incentivos para novos artistas vão para os já consagrados e ricos, através da Lei Rouanet. E os museus são administrados por reitores imbecis de universidades públicas, que nunca aprenderam como evitar um incêndio, quanto mais promover a cultura.
     New Orleans não está só no elenco das cidades que tem o turismo musical como fonte de renda: Nashville, com sua raiz country e Memphis, do rock de Elvis, são destinos certos para os amantes da diversão encantadora da música.
     Um dia talvez, teremos uma cidade musical, quem sabe á beira do Tietê, rica, próspera e divertida. Já temos a tradição e a verve musical herdada dos colonizadores e colonizados, povos de diversas origens. Um sonho que deveria começar a ser construído já, começando pela mudança da mentalidade para uma visão empreendedora, livre das amarras dos governos e com a força dos brasileiros criativos.

 

 

 


 

Comentários