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Publicado: Quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Museu Prudente de Moraes em Piracicaba

Crédito: foto de Verônica Boni Museu Prudente de Moraes em Piracicaba
A mesa de trabalho do grande presidente.

“Sou Prudente no nome, prudente por princípios, e prudente por hábito. Sou também prudente, procurando evitar questões pessoais e odiosas.” Prudente de Moraes.


Prosseguindo minha pesquisa sobre a história do ensino superior em São Paulo, visitei o Museu Prudente de Moraes em Piracicaba, para entender um pouco mais sobre as condições sociais e econômicas da época na Província de São Paulo, que serviriam de berço ao nascituro ensino superior paulista.

Na oportunidade da visita, fui muito bem recebido por Alexandre Lopes e Eduardo Ferraioli Ducatti, dedicadíssimos componentes da equipe da diretora do museu Maria Antonieta Sacs Mendes.

O museu funciona desde a sua fundação em 1957, na casa que foi residência de Prudente. Concluída em 1870, foi palco de grandes manifestações políticas da época da proclamação da República.

Como veremos, o ituano Prudente de Moraes liderou o pensamento republicano e liberal da época, desempenhando importantes cargos públicos e vindo a ser eleito o primeiro presidente civil da jovem república brasileira. Foi ainda, o primeiro político a representar os paulistas no cenário federal.

À magistral figura de Prudente de Moraes coube a missão de ser o primeiro presidente civil da República brasileira, no ano de 1.894. Hercúlea missão. O Brasil vivia uma sequência de golpes e contragolpes, revoluções e contrarrevoluções e os dirigentes do país esforçavam-se para estabilizar o novo regime e vencer a oposição ferrenha dos monarquistas. Seu governo foi pontuado por graves conflitos civis e diplomáticos, como a destruição do arraial de Canudos e a Revolução Federativa do Rio Grande do Sul. Além disso, outras dificuldades igualmente sérias como uma enfermidade que quase o obrigou a renunciar, e o grave atentado que sofreu em 1.897, que quase lhe tirou a vida e que vitimaria seu Ministro da Guerra Carlos Machado Bittencourt, fizeram do seu governo um dos mais difíceis da história.

Os temas abordados por Prudente revelam-se ainda muito atuais: igualdade racial, liberdade política, unidade federativa, correção e superioridade dos valores republicanos, necessidade de controle orçamentário, autonomia entre os poderes constituídos, relações internacionais baseadas na cooperação e no pacifismo.

É uma pena que tudo isso aconteceu há muitos anos, e a maioria dos textos são magros: citam apenas alguns fatos crus e nada mais. Assim, com o auxílio de algumas fontes, teremos uma história provável, mas os elementos essenciais são verdadeiros.

Curiosamente, há exatos 33 anos antes da posse de Prudente, do outro lado do mundo, outro ilustre personagem chamado Abraham Lincoln enfrentou problemas semelhantes, quando assumiu a presidência dos Estados Unidos. Igualmente realizou um dos governos mais difíceis dos Estados Unidos. Encontrou um país dividido pela guerra da secessão. Tal qual Prudente, superou todos os obstáculos com grande êxito, mas pagou um alto preço: a própria vida.

É bem verdade que as realidades eram diferentes e distantes, mas as coincidências entre os dois estadistas não são poucas: ambos eram advogados, ambos foram destacados governantes, ambos enfrentaram guerras e revoluções em seus governos, ambos sofreram atentados mortais, ambos eram abolicionistas e ambos foram aclamados heróis depois da morte.

Estas coincidências trouxeram-me uma dúvida: se Prudente de Moraes teria fundamentado seu governo nas diretrizes e metas do governo de Abraham Lincoln. Trataremos disso num outro artigo, prometo.

Prudente integrou a turma de 1.859-1.863 da Academia de Direito de São Paulo, Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nesta mesma turma estudaram Bernardino de Campos, Francisco Quirino dos Santos, Theophilo Ottoni, Francisco Rangel Pestana e Manoel Ferraz de Campos Salles e outros estudantes engajados nos movimentos abolicionistas e republicanos.

Concluídos os estudos, Prudente se lamentava em carta dirigida ao seu irmão: “Estou – finalmente – Bacharel formado em Direito. Está acabada minha vida de estudante e desde já estou sentindo muito, muito e muito deixá-la.”

Em Piracicaba onde Prudente atuava como advogado, descobriu também a vocação política elegendo-se deputado provincial e depois à Assembleia Geral do Império, representando o Partido Republicano, no qual ingressara em 1.876. Proclamada a República, foi o primeiro governador do Estado de São Paulo, Senador ao Congresso Constituinte, e presidiu os trabalhos de elaboração da Constituição de 1.891.

Precocemente, em 1.865, com apenas 23 anos, foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal de Piracicaba. Dois anos depois se elegeria Deputado Provincial por São Paulo. Nomeado primeiro Presidente do Estado de São Paulo em 3 de dezembro de 1.889, ele concorreria ao Senado em 1.890 e foi eleito.

Em 1.894, elegeu-se o primeiro presidente civil da República dando início a chamada “República dos Bacharéis”. Em verdade os bacharéis sustentaram o ideário republicano, em cuja campanha persistiram até lograrem êxito, sempre atuando com prudência e moderação.

Prudente sofreu um atentado em 05 de novembro de 1.897. Nesse dia, Prudente estaria no Arsenal da Marinha, na Praça Quinze, recepcionando o general Silva Barbosa e dois batalhões da coluna que combateram em Canudos. O anspençada do Décimo Batalhão de Infantaria, Marcelino Bispo de Melo, disparou contra o presidente a arma que tinha na mão direita, enquanto na esquerda, segurava uma faca. Por sorte, o disparo não atingiu Prudente. Ato contínuo, o coronel Mendes de Morais golpeou com a espada o agressor que, mesmo derrubado, ainda conseguiu esfaquear mortalmente o marechal Carlos Machado Bittencourt. O atentado devolveu ao presidente a simpatia popular e o apoio dos parlamentares, que aprovaram o estado de sítio.

A primeira ideia dos assassinos era a de alugar uma casa no Catete, de onde o presidente seria alvejado quando passasse pelas ruas do bairro. A segunda, posicionar um certeiro atirador no morro mais próximo para atirar no presidente quando se postasse – como fazia todas as manhãs – à janela do palacete presidencial, para, enrolando o seu prosaico cigarro de palha, ler o jornal do dia.

Prudente de Moraes assumiu a presidência da República em 15 de novembro de 1.894 em condições dramáticas, num ambiente de hostilidade e ameaças, não merecendo de Floriano Peixoto um cumprimento sequer. A sede do governo era o Palácio do Itamaraty, na Rua Larga de São Joaquim.

Em 24 de fevereiro de 1.897, ocorreu a inauguração da nova sede do governo brasileiro, o Palácio do Catete pelas mãos do vice-presidente em exercício, Manuel Vitorino Pereira, uma vez que Prudente de Moraes, muito doente, licenciara-se desde o dia 11 de novembro de 1.896 para recuperar-se de u

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