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Publicado: Segunda-feira, 7 de maio de 2012

MURAT - Turquinho para os íntimos

Crédito: Google Imagens MURAT - Turquinho para os íntimos
Bandeira da Turquia

Chamava-se Murat. Tinha também Deniz no nome, com z mesmo, se não me engano. Já faz muito tempo, corria a década de 70. O tempo no Brasil estava quente, o regime militar comia solto, e nós estávamos saindo da terceira infância. Queríamos mais era enfrentar a chatice do curso ginasial à tarde e depois jogar futebol, mexer com as meninas, ver umas fotos de mulheres na revista O Cruzeiro, ou na Manchete, porque ninguém era de ferro.

Lembrei-me do Murat porque estou estudando as regras da nova ortografia, por obrigação profissional e também porque gosto do português. De todas as pessoas que conheci na vida, o Murat, turco de nascimento foi o que tinha mais dificuldades no português. Entendia bem, falava pouco e não escrevia quase nada certo. Ele vivia colando consoante em consoante, ignorava as vogais, vírgula e concordância então... era pedir muito que ele entendesse plurais. Quis o destino que fossemos colegas de classe e amigos, e agora revendo a nova ortografia, fico pensando, o que seria do Murat nos dias de hoje.

Mexer na ortografia é uma crueldade muito grande, principalmente para os cinquentões que se atrevem a escrever respeitando a língua pátria. A partir de 2.013, será a última chamada para que as novas normas do português passem a ser obrigatórias. Estou me preparando devagar porque não será fácil. Temos que lembrar de tirar o acento agudo de assembléia, que Murat dizia e escrevia “azembléia”. Igualmente a palavra heróico vai dizer adeus ao acento que heroicamente manteve até aqui. A explicação da perda do acento agudo é simples: deixa de existir acento agudo nos ditongos (encontro de duas vogais em uma só sílaba) abertos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas (que tem a penúltima sílaba pronunciada com mais intensidade), observando-se que as oxítonas (com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos terminados em “éi”, “éu” e “ói”, no singular e no plural (anéis, chapéu e herói) continuam com acento. Só isso.

Vou parar por aí. (Aí com acento ou sem?) Pobre do Murat, cujo nome quer dizer: desejo tornado realidade. Não deve ter tido o desejo de aprender isso. Será que ainda está vivo? Deve ter se casado, tido filhos, até ficado rico, só uma coisa tenho certeza que não conseguiu: aprender português.

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