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Publicado: Quarta-feira, 3 de março de 2010

Mulher na garupa: comodismo, prazer ou exibição?

Crédito: Marcos Duarte Mulher na garupa: comodismo, prazer ou exibição?
Passeio de motocicleta para mulheres em SP

Mulheres que pilotam motocicleta é raro em relação ao número de homens pilotos. Mas porque essa raridade? Ou elas preferem sentar e serem levadas por alguém à algum lugar sem mesmo se preocuparem com o caminho a ser traçado; com as rodovias esburacadas ou perfeitas; com o abastecimento de bom ou péssimo combustível; com a precaução em olhar para todos os lados com um ângulo de quase 180°; com a atenção na parada do semáforo evitando assaltos ou imprevistos ou até por medo de tomar atitudes em todos os instantes??!!

Outra hipótese é que ser garupeira é mais cômodo para seus parceiros, pois elas ficam condicionadas às suas vontades e a falta de liberdade, pois dependem, impreterivelmente, do piloto para chegar ao seu destino ou mesmo para parar em uma lanchonete na beira da rodovia.

Certa vez ouvi de um homem motociclista que não deixava a esposa pilotar sua moto porque não confiava e tinha medo que sofresse um acidente e acabasse com sua “máquina”. Mas ao ser bombardeado de questões ele disse ter vergonha, além de ser muito constrangedor imaginar sua companheira saindo sozinha de moto pela cidade ou pilotando num passeio entre amigos. “Pilotar moto é coisa para homem. Para a mulher existe a garupa. Na garupa ela pode ir cochilando, observando a paisagem e, também, os carros passam e ficam admirando minha moto e a mulher que está abrasada comigo.” Fiquei chocada com suas respostas. Mais chocada ainda fiquei quando ele implorou para que eu não conversasse com sua esposa, pois daria muitas ideias a ela. Senti-me como a patinha feia, excluída e anormal. Para piorar minha tristeza, a esposa do tal motociclista era totalmente passiva da situação. Aliás, suas reações foram de rir muito e concordar com tudo.

Não sentir vontade de pilotar uma motocicleta é normal. Realmente é mais cômodo ficar na garupa devido aos motivos citados acima. Mas ouvir que seu real papel é somente sentar e ser exibida como um prêmio já é demais!

Quando um homem vai comprar seu equipamento de segurança para rodar com sua moto raramente o pensamento de igual importância na segurança da mulher paira em sua mente. Como já foi dito, para esses a mulher garupeira é um objeto a ser mostrado. Ela não corre riscos de se machucar em acidentes ou mesmo de ferir as mãos com uma pedrinha que voou do caminhão a frente. Mulheres que, para manter a elegância e a ditadura da beleza de mulheres garupeiras, se submetem a viajar com calça de tecido fino, jaqueta de poliester, luvas com os dedos desprotegidos e salto alto enquanto, seu companheiro, gasta verdadeiras fortunas com roupas, para seu uso, de proteções nos ombros, coluna cervical, cotovelos e joelhos; capacetes com os melhores recursos para amenizar os impactos; luvas com proteções nas juntas e botas com fibra de carbono na “canela”.

Depois de tudo isso, volto a perguntar: Andar na garupa é comodismo, prazer ou exibição? Tenho diversas opiniões para diversas ocasiões. Mas tem uma coisa que não mudo. Minha importância de mulher piloto numa sociedade preconceituosa.

Digo sempre que pilotar uma moto é como voar feito borboleta. Se não tomar cuidado a vida é curta, mas se tiver responsabilidade por você e pelos outros motoristas (por eles também porque num descuido quem mais sofre é o motociclista) a sensação de liberdade supera qualquer medo e frustração.

Então, para as mulheres que preferem andar na garupa, deixo meu recado de muito cuidado. Assim como o piloto, você também corre riscos. Use roupas adequadas para a ocasião e não deixem seus companheiros lhe mostrarem como um troféu, pois vocês têm suas particularidades e diferenças, pois até para andar na garupa exige um cuidado especial e que poucos sabem. Mas garanto que quando houver interesse em pilotar, ser garupeira será coisa do passado. A sensação de medo e insegurança afloram ao deixar alguém te levar na garupa.

Agora, para as mulheres que adoram a liberdade de pilotar sua motocicleta, assim como eu, também muito cuidado. Mulheres pilotos são alvo fácil para chacotas, buzinas e violência. 

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