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Publicado: Quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Morte e Vida Eterna

Muitos não gostam de tratar do tema, mas a morte é uma realidade da qual ninguém poderá fugir. Na Igreja o mês de novembro trata do término da vida terrena com um olhar positivo, realista, carregado de esperança. Olha para a vida com olhos de fé, se alimentando das verdades teológicas que indicam a vida eterna como destino último da pessoa humana.
 
No dia 1º de novembro, recordamos aqueles cuja vida, explícita ou implicitamente, foi inundada pela graça que nos foi merecida pelo mistério pascal de Cristo. No dia 2 de novembro, a Igreja apresenta suas preces ao Senhor por todos os que, tendo terminado sua peregrinação terrestre e afastado o perigo da condenação eterna, se purificam na chama ardente do amor de Deus, preparando-se para a visão beatífica, de que já gozam todos os santos.
 
Estas comemorações elevam nossas mentes às últimas realidades (novíssimos), das quais nenhum vivente escapará: morte, juízo, inferno ou paraíso. Para o Senhor, nossa vida é coisa séria. Nossa história não Lhe é indiferente, nos recordou o Papa Bento XVI, em sua Encíclica, Spe salvi. Assim sendo, é no amor incomensurável de Deus pelo homem que se apóia a doutrina católica sobre a vocação à eternidade inserida no coração humano, sobre a escatologia, que conhece uma fase intermediária e outra final.
 
A teologia católica, com base na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição, ensina que o homem não foi criado para conhecer a corrupção da carne. Alvo privilegiado do amor de Deus, não teria conhecido o fim trágico de sua existência, que é a morte, se não se tivesse rebelado contra seu Criador.
 
Constituído no estado de santidade e justiça original, passaria da vida terrestre para a visão de Deus de uma maneira natural e sem traumas. Sendo alma e corpo, perfeita dualidade querida pelo Senhor, sua inteireza, isto é, sua pessoa, estava destinada à contemplação do Eterno.
 
Não foi assim, porém, que as coisas aconteceram. O homem pecou gravemente: duvidou do amor de Deus e quis ocupar-Lhe o lugar. Destruída a comunhão com o Criador, encontrou um final trágico e destrutivo para os seus dias: “o pó será o seu fim” (cf. Gn 3,19). Foi envolvido pelo drama da separação perpétua de Deus e da corrupção da carne. Com efeito, Paulo ensina que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23).
 
A Páscoa de Cristo, no entanto, privou a morte de seu maior poderio: o de separar-nos de Deus. Antes do Cristo, mesmo os justos, após sua morte, estavam privados da visão de Deus. São estes os que, no Credo, dizemos foram libertos da Mansão dos Mortos pelo Senhor.
 
Tendo-lhes aberto o acesso ao Pai, o Senhor “mata” a morte que, daí em diante, será apenas uma conseqüência temporal do pecado, isto é, continuará a ser a corrupção de nossa carne, mas “não mais nos poderá separar do amor de Deus” (cf. Rm 8,38). Paulo diz que a morte é “partir e ir para estar com Cristo” (Fl 1,23).
Vê-se, assim, que não existe contradição entre o estar com Deus, depois da morte, e a ressurreição dos mortos, que acompanhará o retorno glorioso do Senhor Jesus. Todos os que, como Paulo, morrem em estado de amizade com Deus, são admitidos à Sua adorável presença logo após a morte.
 
É o caso de todos aqueles que chamamos “santos”, canonizados ou não, celebrados no dia 1º de novembro. Seus corpos transformaram-se em “pó” (exceção feita à Santíssima Virgem), mas por um mistério divino estão diante do Senhor da Vida.
Outros, todavia, mesmo não se encontrando em inimizade com Deus, não foram considerados dignos de contemplá-lo sem antes passar por uma realidade de purificação. A prática de rezar pelos mortos, presente desde os tempos mais remotos da Igreja, fundamenta a doutrina sobre o purgatório e encontra base bíblica em 2Mc 12,38-45.
 
Assim a doutrina católica, por meio da Escritura e da Tradição, professa um juízo particular irrevogável no termo de nossa vida, que será solenemente confirmado no juízo final. Naquele dia, a morte corporal, último inimigo a ser destruído, será colocada aos pés do Senhor Jesus.
 
Os mortos ressuscitarão (os que já gozam da visão de Deus, para a vida eterna; os que se auto-excluíram, para a solidão infernal, que já viviam antes mesmo de se reunirem aos seus corpos) e teremos novos céus e nova terra, pois o amor de Deus terá triunfado.
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