Monte Sinai
Saímos do CAIRO em uma sexta-feira, às 7h da manhã, em direção à Península do Sinai. Passamos por Heliópolis, que é uma cidade satélite e anexa ao CAIRO, onde reside o Presidente Hosni Mubarak. Pegamos a rodovia em direção a cidade de SUEZ, que fica aproximadamente a 140 km. A dez quilômetros da cidade entramos no túnel que tem aproximadamente 500m e passa embaixo do Mar Vermelho, dando acesso ao lado oeste da Península do Sinai e à rodovia que vai para Sharm el Sheik (cidade onde tem uma das praias mais belas do mundo) e Santa Catarina, esta última é a localidade onde fica o Monte Sinai.
Durante todo o percurso de nossa viagem pelos 200 km da rodovia que dá acesso a Santa Catarina, podíamos observar o azul do Mar Vermelho, os barcos que haviam atravessado o famoso Canal de Suez e principalmente toda a paisagem desértica, que é interessantíssima, pois do nosso lado direito estava o mar – aquele mundo de água – e do lado esquerdo, era só deserto e pedra, sem uma gota d’água; é no mínimo intrigante. Passamos por três postos de controle da polícia egípcia e em todos eles nos perguntavam para onde iríamos e de onde estávamos vindo, para nossa própria segurança e local, que com certeza é extremamente necessária.
No último posto policial, entramos para a estrada de Santa Catarina e a partir deste momento começamos a imaginar como o povo de Deus andou por ali e a impressão que dá é que realmente passaram por lá, visto que a estrada fica em uma planície com montanhas de pedras dos dois lados, totalmente seca e com pouquíssima vegetação, onde se pode ver durante todo o percurso apenas ovelhas, camelos, jumentos, alguns carros e vilarejos de beduínos, sendo que no meio do caminho a estrada corta um oásis com muitas tamareiras e algumas casas de beduínos também. Após percorrermos aproximadamente 100 km, chegamos à localidade de Santa Catarina, onde existe uma pequena vila e vários hotéis para receberem os peregrinos, tudo em meio a uma paisagem totalmente desértica, onde se pensa que é quase impossível obter água, mas tem em abundância para todos que ali vivem ou estejam fazendo turismo.
Fizemos os procedimentos para a entrada no hotel, colocamos nossas bagagens nos quartos e às 14h fomos até o Mosteiro de Santa Catarina para contratar um beduíno que faz o trabalho de guia local; são pessoas que fazem este trabalho autorizadas pelo governo do Egito e antes de saírem para a caminhada, deixam sua identidade com os policiais que controlam a entrada das pessoas.
Logo no início da caminhada já fomos abordados por beduínos que estavam oferecendo camelos para subirmos, mas naquele momento ninguém quis subir no animal. Também havia várias crianças vendendo artesanatos da região, como pedras em forma de ovo ou simplesmente pedras e outros enfeites típicos. Passamos em frente ao Mosteiro que estava fechado, era dia do Natal Copta, e entramos em um caminho já demarcado por pedras e que margeia as montanhas com uma trajetória em forma de zigue-zague, para que o peregrino não sinta muito a subida do monte.
No meio do caminho, dois amigos que estavam conosco tiveram que subir em camelos para poder chegarem, estavam muito cansados. Após três quartos da subida aproximadamente, quando já avistávamos o monte, e diga-se de passagem é uma imagem maravilhosa, cheia de religiosidade e simbolismo, tivemos o privilégio de ver que havia neve nas montanhas; é um sensação interessante, no meio do deserto ver uma montanha cheia de neve, sendo o único lugar do Egito que tem neve no inverno.
Quando chegamos ao pé do monte, onde existe uma escada de pedras com 600 degraus para se chegar ao cume do Monte Sinai, todos estavam cobertos de neve. Começamos a subir as escadas que também são em forma de zigue-zague e parecem que não acabam nunca; o perigo de escorregar era grande também, mas com cuidado chegamos ao cume do monte.
Durante os 5 km de caminhada, praticamente não se vê nada de construção na montanha, somente três ou quatro tendas de madeira onde os beduínos vendem refrigerantes, chá, café, chocolate quente, água, salgadinhos e alguns produtos típicos. Encontramos também no meio da subida pelas escadas, uma grande tenda de madeira onde podíamos encontrar todos esses produtos. Ficamos imaginando como chegam com tudo isso lá em cima e através das escadas, mas a resposta veio quando descemos e vimos os burricos carregados com produtos e prontos para subirem.
No cume do monte, onde Moisés recebeu os dez mandamentos, existe uma pequena igreja com o símbolo da cruz das cruzadas e também uma outra construção que não pude identificar o que realmente era, e ainda alguns túneis embaixo destas construções. Quando olhamos ao redor, pudemos ver as montanhas da região e naquele momento, todas estavam com neve, uma visão maravilhosa, pois sabíamos que estávamos em um lugar muito importante para a humanidade e ao mesmo tempo com uma paisagem lindíssima; certamente é um lugar muito especial para se fazer uma oração e uma análise da vida.
Esperamos o pôr-do-sol, que é realmente maravilhoso, um verdadeiro espetáculo de cores; tem gente que faz o contrário, sobe à noite para ver o nascer do sol. Assim que ele se pôs, começamos a descer porque estava muito perigoso. Após vários escorregões chegamos ao pé da escada, onde os amigos que não conseguiram subir nos esperavam dentro de uma construção beduína que serve como bar, tomamos um chocolate quente e descemos orientados pelo guia. Chegamos ao hotel às 20h30min, jantamos, tomamos um banho, teve gente que nem banho tomou e às 22h já estávamos dormindo, todos muito cansados.
No dia seguinte, fomos visitar o Monastério Católico Ortodoxo Grego de Santa Catarina, onde viveram gerações de padres que cuidaram da região para que a história chegasse até os dias de hoje. Dentro do mosteiro existe uma igreja muito bonita com trabalhos magníficos e relíquias (ossos de santos), mas o mais interessante é a Sarsa Ardente (árvore que estava queimando verde, quando Moisés chegou ao monte e Deus falou com ele através dela) que fica do lado de fora da igreja, além de toda a estrutura de sobrevivência que eles necessitavam, inclusive para se defenderem dos ataques dos bárbaros, que sempre estavam tentando obter gêneros dos monastérios através da força.
O que mais chamou a nossa atenção foi o fato de haver muita gente, acredito que umas trezentas pessoas ali na área do monastério e que haviam subido o monte à noite, mesmo com todo o perigo que a neve representava durante uma escalada noturna.Apesar de ser apenas uma montanha e totalmente seca, posso dizer que valeu a pena subir as duas vezes que subi e mais as outras que subirei, pois ali senti uma paz de espírito muito grande e tive a oportunidade de ver um lugar que ouvi falar desde crian&cced