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Publicado: Sexta-feira, 29 de julho de 2011

Minhas noites com Sônia

Crédito: Internet Minhas noites com Sônia
Ela é uma das minhas grandes companheiras.

Lembro como se fosse hoje. Eu a conheci sem querer, num desses imprevistos que a vida traz sem pedir licença. Estava quietinho no meu canto quando ela apareceu. Veio de mansinho, sem alardes. Quando percebi, tomava conta de mim completamente. Tornou-se inevitável. E desde então nunca deixou meus pensamentos.

Seu método de aproximação era cheio de sutilezas. Hoje compreendo melhor como foi que me envolveu. Mas nas primeiras vezes deixava-me sempre surpreso. Como conseguia causar em mim tantos efeitos? Como podia ocupar minha atenção por tanto tempo?

Sempre surgia de noite. Impulsiva, datas não importavam para ela. Aparecia fosse num sábado ou numa terça-feira. Nunca tive como reagir. Ela impunha sua presença, não se deixava ir embora, chegava para ficar o tempo que quisesse. Mas isso não fazia dela uma companhia odiada, muito ao contrário.

Aprendi muito com ela. O tempo que passávamos juntos eram super produtivos. Momentos de muita conversa, auto conhecimento e reflexões. Juntos pensávamos sobre tudo: dos segredos do Universo a questões de formigas; de política internacional a campeonatos de futebol.

A estranheza inicial foi passando na medida em que ela passou a visitar-me com mais freqüência. Nada era combinado, nunca foi. Mas quando ela chegava, aproveitávamos o quanto podíamos. Havia coisas que eu só falava com ela. Havia assuntos que só refletia na sua presença.

Juntos vimos muitos filmes. Seus gostos eram parecidos com os meus. Vimos clássicos do cinema, sempre comentando as impressões causadas. Discutimos assuntos de inúmeros artigos. Ela me ajudou a pensar e repensar inúmeros projetos, profissionais ou particulares. Sobretudo, aconselhou-me bastante em dilemas fundamentais da minha vida.

Uma coisa era regra: depois de ir embora, deixava-me esgotado. Sua companhia era um tanto extasiante, mas na seqüência eu ficava um caco. Fosse um dia de semana, teria sono e preguiça nas tarefas do dia seguinte. Fosse num sábado, passava o domingo me recuperando em casa.

Houve um tempo em que ela sumiu. Pensei até mesmo que tivesse me esquecido. A rotina alucinante, o número de compromissos, as diversas tarefas e projetos nos quais me envolvi, me distraíram a ponto de não sentir saudade. Mas percebi, obviamente, sua ausência. Pensei mesmo ter sido abandonado.

Ledo engano. Do nada, ela surgia outra vez. Qual Fênix renascendo das cinzas (eita expressão batida...) sempre vinha novamente me visitar. Foi ela a companhia necessária, a amiga que me ajudou nas minhas tantas tarefas. Foi minha fonte de inspiração diversas vezes e, por quê não dizer, minha parceira.

Hoje não sei viver sem ela. Quando se ausenta, sinto-me estranho. Não chego a desesperar, mas ocupa meus pensamentos. Ela conquistou um espaço na minha agenda, na minha vida. Discretíssima, ela não faz questão de propagandas e reconhecimentos públicos, mas sinto dever-lhe esta justa homenagem.

Assim são minhas noites com a Sônia: a insônia. A verdadeira responsável pela minha capacidade de escrever tantos artigos, de pensar tantos projetos, de inúmeros livros engavetados, de várias decisões tomadas, de quantas questões refletidas, de muitas resoluções encaradas e tantos compromissos cumpridos.

Viver é preciso. Dormir não é preciso. Pelo menos nos momentos de insônia. Quando ela chega, não há rebanho de caprinos que dê jeito. E assim vou convivendo com ela, concluindo com a informação de que escrevo este artigo às três horas da madrugada. Sim, com ela aqui comigo, a quatro mãos e quatrocentos carneirinhos. Ah, Sônia... Minha querida insônia!

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