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Publicado: Segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Mercado de camelos

No EGITO, assim como em todo o mundo muçulmano, a sexta-feira é considerada dia santo, ou seja, é neste dia que as pessoas aproveitam para descansar e rezar. E foi na primeira sexta-feira de dezembro que fui ao mercado de camelos com meu filho Ricardo, o Zein (amigo egípcio/brasileiro), Albarado e seu filho (amigos da Argentina).

Como já disse em outro relato, o Cairo possui avenidas que margeiam o rio Nilo, as quais são chamadas de Corniche. Tomamos uma delas e fomos em direção ao Delta do Nilo, onde as pessoas têm um modo de vida muito simples, parecido com o dos bairros pobres do interior do Brasil, mas com uma grande diferença: você pode entrar e sair sem ser molestado (a criminalidade quase não existe). Há plantações dos mais diversos tipos de gêneros alimentícios e as pessoas se utilizam de animais (têm carros e caminhões também) para se locomoverem, para trabalharem na lavoura e para carregar os mais diversos tipos de materiais, em carroças ou no lombo mesmo.

Apesar do Delta do Nilo ser servido por inúmeros canais de água, a área onde fica o mercado de camelos encontra-se em uma região desértica, cercada por um grande muro de alvenaria de 150 m de frente por aproximadamente 400m de profundidade.

Quando chegamos próximo ao local, chamou a atenção de nosso amigo Albarado um cemitério de camelos, a céu aberto, do lado direito da via que dá acesso ao mercado, provavelmente é ali que jogam os animais que morrem durante a comercialização; por alto contamos uns trinta esqueletos em decomposição.

Na entrada, nosso amigo Zein, que fala árabe, negociou as entradas que são pagas, ficando por 10 reais cada adulto, 5 reais cada menino e 5 reais pela câmera, e dali já podíamos ter uma visão completa do mercado, que é formado por uma área livre logo na entrada, à esquerda, a qual equivale ao tamanho de um campo de futebol e à direita, algumas construções que servem de lanchonetes e lojas de venda de produtos relativos aos camelos, sendo tudo muito rústico, nada comparado a uma lanchonete ou loja da cidade. Desta área tivemos praticamente a visão total do mercado, que é composto por um corredor de aproximadamente 40 m de largura e 250 m de comprimento, onde podíamos ver centenas de camelos de tudo quanto é tipo, cor e tamanho, e também de cada lado do corredor existem grandes baias, onde os camelos são confinados para serem vistos e negociados.

Passamos a caminhar em direção ao interior do recinto e a sensação que tive foi que estava em um filme, haja visto que praticamente todas as pessoas que ali estavam para trabalhar e negociar, aproximadamente duzentas, estavam vestindo as roupas tradicionais dos árabes, a galabéia e um pano enrolado na cabeça. Todos, sem exceção, inclusive as crianças, utilizavam uma vara um pouco maior que uma bengala, para controlarem os animais, quando queriam sair do local onde estavam e se reuniam em grupos de 8 a 10 pessoas para negociarem os animais; e assim fomos adentrando ao recinto, atentos a todos os movimentos dos homens e dos animais.

Paramos em uma das baias onde havia aproximadamente doze homens falando alto, o que mais parecia uma briga, mas de repente começaram a bater palmas, o negócio tinha sido fechado. Observamos também outros grupos de negociantes e o que mais nos chamou a atenção foi o fato de que a negociação é calorosa, parecendo muitas vezes que vão até se agredir, pegam nas roupas uns dos outros, falam face a face, saem gritando do local; o outro que fica também grita, ao mesmo tempo voltam, como se fossem bater no que ficou; outros o retiram do local. Depois de um minuto voltam como se nada tivesse acontecido e retomam a negociação, fazendo os camelos deitarem, levantarem, batem com a vara no focinho deles para abrirem a boca e mostrarem os dentes, batem na traseira para se levantarem; os homens olham todos os detalhes, mas sem demonstrar muito interesse, senão o preço sobe; então chegam a um acordo de preço, tomam um chá e cada um sai com seu produto.

Perguntei ao Zein o porquê de tanta gente ao redor dos negociantes e ele me respondeu que é para saber o preço que estão sendo negociados os animais e fazer o seu negócio posteriormente.

Observamos também que todos camelos tinham a pata esquerda amarrada, com o joelho dobrado, para não fugirem com facilidade do local onde estavam. Ficamos sabendo depois através de um dos negociantes, que esta é a pata mais forte do camelo e se ela ficar livre, fica difícil controlar o animal.

Tenho certeza de que os amigos devem estar se perguntando o que se faz tanto com os camelos! Como vocês já sabem, o camelo aqui é utilizado como meio de locomoção, mas também é utilizado no trabalho agrícola e no transporte, além do que sua carne é muito apreciada pelos egípcios; dizem alguns amigos, que o fígado dele é uma maravilha, mas eu ainda não experimentei.

Passamos no local aproximadamente uma hora e meia, que com certeza valeram por muitas horas de vida, pois como já disse, parecia que estávamos dentro de um filme e que os atores estavam atuando sem se importarem com nossas presenças, ou seja, estavam ali somente por causa de seus camelos ou pelo prazer de negociar. E para aqueles que gostam de cifras, um camelo vale aproximadamente 1000 reais.

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