Menos que Nada
Para mim o cinema nacional é dividido por regiões, que é bastante comum. Você percebe quando ele é filmado em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e em outros Estados brasileiros. Mas o melhor local e que há muito tempo sai coisas boas de lá é o Rio Grande do Sul, já começando a falar do Jorge Furtado que faz ótimos filmes como “O Homem que copiava”, ”Saneamento Básico”, “Houve dois Verões” e o premiado curta “Ilha das Flores”, que sempre agradou o público. Ele fundou em Porto Alegre a produtora “Casa de Cinema de Porto Alegre”, que tem vários produtos a venda desde curtas, longas metragens e livros. Desse meio saiu o diretor Carlos Gerbase. Quem já viu o filme dele de 2000, “Tolerância” já sabe como ele assina seus filmes: um misto de emoções, que chega a entrar na mente humana e exploram todos esses sentimentos como traição, inveja, mentira e medo. E no “Menos que nada” não é diferente, ele constrói essa bela história um quebra-cabeça que é montado dentro da mente de um esquizofrênico para se descobrir a verdade do seu passado.
A trama conta a história de Dante (Felipe Kannenberg) um estranho doente mental de uma instituição que tem um estranho ritual que se repete diariamente, ele entra em seu buraco na terra e começa a cavar, depois ele briga com alguém imaginário e começa a simular sexo com uma cadeira e finalmente ele morre e fica deitado por horas. A nova residente dessa instituição, a psiquiatra Paula (Branca Messina), se interessa pelo estado de Dante e começa a investigar o porquê ele ficou assim. Ela descobre que no começo ele recebia a visita de três pessoas. Sua amiga de infância Berenice (Maria Manoella), sua ex-professora de faculdade Laura (Carla Cassapo) e seu Pai (Roberto Oliveira) e a partir dessas três pessoas ela começa a desvendar os motivos que levaram Dante a chegar a esse estado da doença. Ela começa a investigação pela amiga de infância de Dante, e nisso você descobre que ele era graduado e tinha um bom emprego. Um dia quando Dante ainda tinha uma rotina normal, ele vai a uma excursão e encontra a doutora René (Rosanne Mulholland) ele se apaixona por ela, no começo fica meio impossível ele ter algum relacionamento com ela, por que depois que Paula recolhe o depoimento de Berenice, ela vai atrás de sua professora e ela fala que o comportamento de Dante é sempre quieto, tímido e sempre na dele.
Quando Berenice vai visitar ele antes do surto ela revela que casou e herdou umas terras e na construção de uma pousada, ela achou alguns ossos e pede ajuda de Dante para descobrir o que era aquilo, seu marido ciumento e possessivo expulsa Dante das terras, mas ele fica com uma parte dos ossos e mostra para a doutora René que fica encantada com aquilo e começa a explorar junto com Dante essas terras. Mas aos poucos as tramas vão se fechando, e você não sabe mais o que é real e o que é invenção. E essa duvida que o Carlos Gerbase coloca no filme é um dos seus momentos altos na trama. Mas o interessante é que você é levado até certo ponto do filme onde tudo realmente faz sentindo e depois quando tudo começa a se fechar você é levado a outro pensamento; se isso realmente aconteceu.
A história é muito bem desenvolvida, o roteiro é bem planejado e acerta nos pontos de virada, mas a atuação do Felipe Kannenberg é brilhante - que ator! - essas duas fases em que ele está normal e depois que ele fica maluco de vez é perfeita. Quando ele está na instituição e os jeitos que ele fica, o comportamento dele, ele tem aquele “timing” para atuação e não é nada forçado, dou a dica para ficarem de olho nesse ator e digo mais; fiquem de olho nos filme e curtas que saem do sul, por que sinceramente nunca vi tantas coisas boas que estão saindo de lá ultimamente.