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Publicado: Segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Menino Deus ou Papai Noel?

Tenho de reconhecer que, de anos para cá, neste tempo do Advento e até mesmo na noite e dia do Natal, o Menino Deus vem sendo colocado de escanteio. Em seu lugar crescem, ano após ano, a visibilidade dos pinheiros, pequenos alguns, enormes outros, em geral bonitos e chamativos e, apesar dos pesares, a figura sempre exótica, fora do devido contexto da Lapônia e regiões frias da Europa.

O pinheiro, pequeno ou grande, ainda continua um símbolo natalino muito expressivo. Lembra em meio ao desfolhamento total e à aparente morte de todas as outras plantas das regiões intensamente frias ou gélidas, a pessoa de Cristo. Como os pinheiros, Ele continua vivo para sempre!

O Natal é realmente encantador quando se contempla o Menino Deus na mangedoura, a Virgem Mãe, Maria de Nazaré, e José, seu esposo, em adoração. Quando se reconhece no Menino “a Criança que Deus nos deu”, Deus Forte e Admirável, Príncipe da Paz e Emanuel, Deus Conosco, segundo o profeta Isaías, Filho de Maria e Filho de Deus que nasce para nos salvar. Quando nos recordamos do infinito amor de Deus que decidiu enviar-nos na “plenitude dos tempos, o seu próprio Filho nascido de uma mulher”, como afirma Paulo na carta aos Gálatas, então compreendemos a infinitude do seu amor por nós.

Acrescentem-se além do Menino, sua jovem Mãe, o humilde José, os anjos que anunciaram aos pastores o feliz nascimento do “Menino envolto em panos colocado na mangedoura”, a estrela radiante que brilhou nos céus levando até Jerusalém e à gruta de Belém, os magos vindos para adorá-lo e homenageá-lo, acrescentem-se em torno do presépio ovelhas, burrinhos e bois e se terá diante dos olhos uma cena inigualável, sem dúvida a mais encantadora de toda a história humana.

Lembro-me dos meus tempos de criança, adolescente e jovem, quando a cena descrita em pormenores pelos evangelistas, estava por toda parte, até mesmo nas vitrines das pequenas ou grandes lojas, nos canais de televisão que estavam chegando.

Dos belos presépios, como um dos que visitei nestes dias, em lugares destacados das nossas igrejas. Os pequeninos se encantavam indo de igreja em igreja. Havia concursos premiando os presépios mais belos, alguns com cenas da vida camponesa, com fios de água límpida e moinhos, com pequenos transparentes lagos. Os Natais eram mais bonitos e, certamente, mais cristãos.

Sei que os tempos mudaram, prevalecendo hoje o indiferentismo religioso e o consumismo. Que hoje o mais importante é a vendagem de tudo e o maior faturamento dos caixas. Que os comerciantes necessitam mais de Papais Noéis e, agora, também, de desinteressantes Mamães Noéis.

Lamentavelmentee, mais deles que do Menino, de Maria e de José! Mas convenhamos que fazem falta os presépios e as sempre envolventes Novenas do tempo do Advento, reunindo famílias em preces e cânticos, relendo ou dramatizando a história do nascimento de Cristo, especialmente como é narrada em pormenores pelos evangelistas Lucas e Mateus.

A criançada hoje se reúne às centenas para receber o Papai Noel que desce de helicóptero! Os trenós e as renas simplesmente desapareceram. Foi-se a lembrança de que os Papais Noéis na realidade deveriam lembrar a bondade do Bispo da Lícia, São Nicolau, discreto benfeitor de moças casadoiras mas sem o necessário dote providenciado por ele. Também eles, os Papais Noéis, estão desfigurados! Outro dia vi uma criança nos braços de sua modesta mãe, assustada diante de um enorme Papai Noel gingando eletronicamente diante delas.

Faltava só falar e convidar a entrar e gastar o que talvez não tivesse para comer.

Não desejo mal a nenhum Papai Noel. Nunca tive sentimentos de desamor ou de ódio, por quem quer que seja, nem mesmo pelos comerciantes. Mas como Bispo e Pastor da Igreja, sinto o dever de continuar proclamando que a festa é de Cristo, do Menino que veio nos salvar, inaugurando novos tempos. Dele e de ninguém mais! Sim, são dele a vigília e o dia de Natal. É direito seu, de sua Mãe e de José, estarem no centro das preocupações de todos que se ainda se consideram cristãos.

É bom que o Natal seja, também, a noite e o dia da criança e da família. De toda criança e não somente de algumas, pois todas têm o mesmo direito de ganhar um presentinho que seja. Toda família, principalmente as mais pobres, devem poder ter uma ceia mais generosa na noite e no dia de Natal. Porém, não podem faltar o Menino Deus presidindo a tudo, se possível em um presépio doméstico, com Maria, José e uma ou outra ovelha.

Não dá para compreender que somente se pense e providencie os frutos, castanhas e nozes, chester e outros pratos. É tão importante que a família toda se reúna nas igrejas para a Missa em que sempre acontece um renovado Natal, o Natal Eucarístico, se possível comungando e aproximando-se com fé do presépio bonito e rico, simples ou pobre, osculando os pés do Menino. Depois, tudo bem, a ceia de Natal, a troca de alguns presentes entre os adultos, a entrega dos brinquedos sonhados e pedidos pelas crianças. É preciso dizer-lhes, sem equívocos e sem omissões, que a festa é do Menino Deus e que Ele continua sendo o grande presente do céu para toda a humanidade. Que Ele deu aos pais, pela sua vida e trabalho, o presente que recebem naquela noite e dia santo entre todos.

Os Natais dos nossos dias e os de amanhã podem ser um tanto diferentes dos Natais de ontem. Porém, não podem, de modo algum, marginalizar o Menino Jesus, Maria sua Mãe e José, presença do Pai eterno na história de Cristo, que precisa continuar sendo, acima de tudo, a história do amor de Deus, o tempo da salvação, da fraternidade e da paz.

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