Colunistas

Publicado: Quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Menino americano é mais menino que o brasileiro?

Quando vi a notícia do menino de 13 anos que aos 11 matou a madrasta grávida de 9 meses, já imaginei que a imprensa brasileira ia usar o caso para pedir rebaixamento da idade penal para os meninos brasileiros. Não deu outra. O motivo de dizer que o americano era menino tinha algo embutido aí.

Usaram o fato do americano poder pegar prisão perpétua. Poder não quer dizer que vai acontecer, mas serviu para assanhar a pedofobia da nossa imprensa. Serviu para atiçar quem pede o rebaixamento da idade penal.

Não deram ênfase ao mais importante da notícia. A Anistia Internacional, a ONU e o mundo todo está defendendo o menino americano.

A Rede Globo, através do Jornal Nacional, fez a ponte esperada. Claro que omitiram o fato do mundo estar defendendo o menino americano com o argumento que ele não sabia o que fazia aos 11 anos.

E ele vai sair da cadeia formado e curado com nova identidade. Igual aquele que há muitos anos matou uma menina de dois anos.

Aqui no Brasil os nossos meninos não tem a complacência de ninguém. Caem de pau sem dó.
No lugar de políticas públicas voltadas para criança e adolescente (como tem nos Estados Unidos), não temos nem escola pública. Que nossas escolas expulsam os alunos mais difíceis sem nenhum problema e com a anuência das autoridades da deseducação.

Um menino de 11 anos matou a madrasta grávida e o mundo está com ele, cheio de pena. Digno de pena mesmo, que esta não é a ordem natural das coisas.

Um menino de 11 anos roubou um carro aqui em São Paulo, Brasil, pela primeira vez, de modo extraordinário e ficou nas ruas.

A única coisa que fez na época para se defender foi jogar pedras nos repórteres que queriam escrachá-lo e humilhar sua mãe. Imagem que a imprensa divulgou só o que lhes interessou: ou seja, o trecho que ele jogava pedras para demonizar e mostrar quanto o “monstro” era agressivo.

Agora, com 14 anos, ele continua roubando carros para passear. Não para roubar. Para passear.

Um menino que rouba um carro estacionado em local difícil e faz ligação direta em segundos, tem no mínimo talento especial que não foi canalizado para o bem.

Esperaram ele completar 12 anos para prendê-lo, foi espremido e depois que virou “suco de ódio” foi solto. Agora vai de novo, ser espremido mais um pouquinho. A imprensa ainda procurou seus pais para tripudiar mais um pouco e não encontraram.

O jeito que um policial o arrastava segurando seu pescoço e o forçando andar e encurvado, dá-nos a certeza de como ele vai ser tratado preso, longe das câmeras.

Um delegado até mostra um dedo sangrando que o menino mordeu. E o delegado até declara para a imprensa que estava tranquilamente conversando com o “monstro”.

Quando vi a Fátima Bernardes e o William Bonner fazendo a comparação do menino americano com o nosso menino, faço a mesma pergunta que fez a professora, Gloria dos Reis, autora do livro Escola Instituição da Tortura. AFINAL, A GLOBO QUER CRIANÇA ESPERANÇA OU CRIANÇA PRISÃO E DESESPERANÇA?

Comentários