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Publicado: Sexta-feira, 22 de maio de 2009

Memórias de um Escriba Sonhador

Há quem não goste da linguagem coloquial.
 
Essa modalidade, entanto, é obviamente a que mais aproxima o autor do leitor ou este daquele ou ambas as hipóteses ao mesmo tempo. Talvez essa intimidade ou proximidade a alguns desagrade de fato e tudo, por final, se resume a uma questão de gosto.
 
Mas, tem de outro lado quem goste. E não poucos...
 
Para se dar um exemplo apenas, o que mais cativaria no jeito de escrever que a notabilizou e que ao leitor mais prende, do que a peculiaridade na obra toda de Rachel de Queiroz?
 
A forma direta de dizer, a se por praticamente ao lado do leitor, como se fora comunicação ao vivo, tão ligado se fica.
 
De algum modo, ao subconsciente de quem sorveu com avidez o estilo da escritora, seria como formarem-se imagens de trejeitos seus ou até de nuances da expressão fisionômica da consagrada autora, conforme empreste ou não enlevo maior numa ou noutra passagem. Quase que se a vê sorrir, ou compor-se em semblante sério e plácido, a partir da natureza do tema ou do enredo. Ela como que se transpõe e se antepõe ao texto, tamanho o vigor e a propriedade de como se expressa. A figura daquela mulher serena, figurativamente, não seria demais dizer-se, como que envolve as palavras. Dá-lhes cor e sabor.
 
Por feliz acaso, o primeiro contato com os escritos de Rachel se deu em meio a passagem da infância para a pré-juventude, tão precoce foi. Leitor assíduo da então revista O CRUZEIRO, de rigor, desde que ainda menino. A memória estiolou e fica uma tremenda curiosidade de saber como pudera estar este escriba ao alcance das revistas. Não se lembra.
 
Mas não lhe falha absolutamente a recordação de que mesmo antes de lançar os olhos sobre a capa e a tudo quanto mais contivesse, abria O CRUZEIRO ao contrário, para ler exatamente, por primeiro e com sofreguidão, no fecho delas, o texto saboroso da consagrada escritora cearense.
 
Ali, na página derradeira, na coluna que ela intitulara justamente de ÚLTIMA PÁGINA.
 
Na segunda metade do ano de 1990, este modesto cronista inaugurou também uma simples presença semanal, coluna do mesmo nome, título surgido de um plágio, inconsciente, contudo, lapso de memória.
 
Deu-se conta dessa contingência, anos depois, a ponto de se cogitar mudança na denominação daquele espaço, apesar de colhida involuntariamente na ocasião.
 
Decidiu-se, contudo, pela continuidade dela, mesmo porque brotara instintivamente, de um resíduo de saudade, com certeza. Assim ficou, pois, ainda que na forma da mais insignificante das homenagens à romancista.
 
Admita-se agora que a influência de uma inspiradora de tanto e sutil vigor possa ter recaído também sobre o modo e a preferência adotada nestes rabiscos, e, antes deles, inclusive, desde os bancos da escola. Deixar que falem o coração e o íntimo. Rachel de Queiroz já era então lida e apreciada, antes dos doze anos, pois a partir daí ocorreu o ingresso no Seminário do Carmo. Janeiro de 1950.
 
Mais recentemente, alguém brindou este colunista com a atenciosa remessa de um e-mail denominado “Uma Relíquia”, colhido do site www.memoriaviva.com.br.
Autêntica preciosidade, a matéria investe na remissão de antigas edições de O CRUZEIRO, a mostrar a capa e selecionar em links próprios, indicação de textos completos de vários autores, entre eles, obviamente, como corolário, a “Última Página” de Rachel de Queiroz. Bem provável seja trazida algum dia parte desses dados, em forma de crônica, para apreciação de tão importante documento.
 
A coluna Última Página, em “A Federação”, surgiu em 1990, no segundo semestre, na linha de crônicas do cotidiano, assunto vário e sempre aberto.
 
Da mesma iniciativa e no mesmo jornal, lançadas e deixadas depois a cuidados alheios, as seções “Nota Cem/Sem Nota”, “Eles Disseram”, “A Foto do Fato/O fato na Foto”, “Idéias, Frases e Pensamentos”, s de Ler”, “InternatAqui”. Talvez, outras mais, que ora não venham à mente.
 
De notícias, editoriais, reportagens e matérias avulsas não assinadas, perde-se então a conta, eis que ali foram ocupadas diversas funções, ao longo dos anos. Mero articulista, editor e até presidente da mantenedora.
Bons tempos.
 
Graças a Deus.
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