Meditando com a Rainha da Floresta

Sou turista com passaporte bastante carimbado no território da Espiritualidade. Meus pais casaram na Igreja, sou batizada, fiz primeira comunhão, crisma e estudei em colégios católicos.
Seria muito amiga de Jesus Cristo e andaria com ele por todo lado se tivesse vivido na sua época. Gosto muito daquela passagem em que iam apedrejar uma mulher adúltera e ele deteve as pessoas dizendo: “Atire a primeira pedra quem nunca pecou”. Nele eu votava!
Conheci o judaísmo através das danças de Israel que aprendia no Centro de Cultura Judaica. Lá descobri o Rabino Nilton Bonder e através de suas palestras e livros conheci muito sobre essa Tradição. Acho bonita a ideia de que o povo judeu não tinha como se reunir num local físico quando perseguido, mas podia se unir no tempo, através do Shabat, o ritual que começa e acaba no por do sol de sexta e sábado.
Ando apaixonada pelas ideias do budismo tibetano sobre as emoções. Através desse estudo percebi, por exemplo, como me autorizo facilmente a acreditar que posso ser áspera quando estou irritada, que ciúmes me dão o direito de espezinhar, que não devo ousar quando tenho medo, que é melhor ser boazinha quando sinto culpa.Tem pessoas, inclusive, que acreditam que podem matar por raiva ou ódio!
Descobri também que a emoção que mais me rege é o medo. Aprendi a usar uma lupa: quando chegam outras emoções logo percebo. Posso observá-las me tomando, posso sentir alívio quando vão embora. Aprendo a não acreditar na versão dos fatos que elas elaboram e também não saio mais com elas por aí reagindo tanto. Gosto muito dessa atividade. Emoções observadas me libertam delas.
Conheci também o Santo Daime. Uma religião brasileira criada no Acre por um homem negro, Mestre Irineu, que uniu o ayahuasca, a bebida feita pelos índios, com tradições caboclas e catolicismo popular, a partir de uma visão que teve de Nossa Senhora da Conceição que se apresentou para ele como a Rainha da Floresta.
Admiro a seriedade das igrejas do Santo Daime, o respeito e cuidado que elas têm com a Tradição, a beleza do canto e a reverência e confiança na força daquele líquido de gosto ruim que provoca mirações, insights, exames de consciência, experiências espirituais, etc.
Olho com muita curiosidade as pessoas incorporando na Umbanda. Adoro o som dos atabaques. É bonito as pessoas poderem recorrer às entidades para pedir conselhos.
Acho muito rica a mitologia dos Orixás do Candomblé, embora nunca tenha ido num ritual. Aprendi um pouco da dança que é linda. Um homem que lia búzios me disse que sou filha de Oxóssi, o caçador que quando vai para a floresta fica em sintonia com a respiração do bicho para caçá-lo e nunca erra o alvo. Quando ele volta para aldeia trazendo a caça é sempre feita uma grande festa e que o alimento que ele traz é, imbolicamente, o que cada um precisa aprender de si próprio.
Como boa brasileira já recebi passes em Centro Espírita e conheci também o Deeksha, que vem da Índia, e que através de mãos colocadas na cabeça pretende transmitir energia divina.
Que bom que vivo num país com tanta tolerância religiosa. Faço parte de um povo que tem muitas opções de conexão com o Mistério. As igrejas criam mecanismos de comunidade e isso dificulta o isolamento que em nada combina com o ser humano.
Por essas e por outras é que sou uma turista alegre e engraçada: Faço o sinal da cruz e giro como Oxum. Sei cantar hinos do Daime e leio sobre a Cabala. Treino meditar e danço ao som do atabaque. Desse jeito só no entro no Céu se o Sr Diabo fizer intriga! Né não?