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Publicado: Sexta-feira, 10 de junho de 2011

Mayer Ambar, a saga de um empreendedor

Mayer Ambar, a saga de um empreendedor

Não muito diferente do que ocorre em outros segmentos da economia brasileira, quando se trata de memória, a indústria do turismo é raquítica. De forma injusta, aqueles que contribuíram para o desenvolvimento do setor e dedicaram a vida à atividade acabam relegados ao esquecimento. Isso ocorre não tanto por desinteresse ou ingratidão dos pares, no entanto pela pura falta de registro das trajetórias.

Um caso emblemático é o de Mayer Ambar, que em 1957 fundou a companhia Bel Air Viagens, e que viria a se tornar referência de mercado em uma época em que as viagens de negócios davam tímidos passos no país. Nascido no Egito, em 1946, ele escolheu o Rio de Janeiro como sua pátria depois de ler a tradução em francês da obra Brasil, País do Futuro, do escritor austríaco Stefan Zweig.

A sua chegada ao país tropical e o encontro com um povo cordial de idioma estranho bem poderiam se confundir com a de qualquer imigrante. No entanto, Ambar se distingue pela personalidade cativante e o amor incondicional pela música clássica, e faz dela companheira inseparável.

A saúde precária não diminui a sua vontade de viver, e Ambar aprende a driblar enfermidades com alegria e humor. Dotado de espírito democrático e personalidade agregadora, carinhoso e gentil, o empreendedor egípcio se projeta na área até assumir um papel ímpar de liderança associativa.

É sobre a história fascinante de Mayer Ambar que trata o meu livro O Maestro, publicado pela Editora C4/It Books. Da infância no Egito à chegada ao Brasil, do aprendizado da língua ao primeiro emprego e a fundação da Bel Air Viagens, das realizações à transformação em ícone, a obra refaz a sua trajetória.

Ela surge a partir de depoimentos de parentes, colegas e amigos, gravados há 15 anos por ocasião de sua morte, somado a entrevistas recentes e pesquisas. Com introdução do maestro João Carlos Martins e prefácio de Eloi D'Avila de Oliveira, da Flytour e Goiaci Alves Guimarães, da Rextur, ambos destaques do trade, a vida de Ambar é universal, pois representa não só a férrea determinação do imigrante que deixa o universo familiar, afetivo e cultural, em troca da esperança em território desconhecido, mas também a solidariedade de pessoas ou de coletividades que acolhem com carinho compatriotas menos afortunados chegados ao país.

A publicação traz também, como pano de fundo, a história dos judeus-egípcios no começo do século 20 até a sua trágica expulsão pelo governo de Gamal Abdel Nasser, em 1956. Nesse sentido, O Maestro homenageia todos os povos oprimidos por regimes despóticos que desintegram famílias em nome de um patriotismo revestido de ideologias tirânicas. Situação que, lamentavelmente, ainda hoje se repete.

O intuito é não só tornar a vida exemplar de Mayer Ambar inspiração a outras pessoas, mas também registrar a sua contribuição para a consolidação da indústria de viagens de negócios no Brasil. Afinal, é fundamental resgatar o passado dos realizadores e festejar os líderes de uma história de sucesso vinda de tempos heroicos, quando agenciar viagens de negócios ainda era considerado um empreendedorismo de altíssimo risco.

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, no dia 9 de junho, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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