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Publicado: Segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Matando Deus...

“O maior problema do Ocidente é o esquecimento de Deus!”(Bento XVI), e esse esquecimento está se espalhando.

Falar em “morte de Deus” poderia ser um absurdo, não fosse tudo que vemos passar e acontecer em nosso mundo atual. E, é claro, Deus tem uma existência absoluta e não caberia usar aqui o sentido físico de morte. No entanto a morte pode ser tomada, mesmo humanamente, num sentido mais amplo, como quando há exclusão, abandono, aniquilamento, desprezo, discriminação, exploração, e outras formas ofensivas à dignidade e à honra da vida humana. É fácil de se ver que, nesse sentido global somos capazes de “matar” o próprio Deus, esquecê-lo, desprezá-lo ou ignorá-lo; matá-lo em nós e ajudar a matá-lo também nos demais. É muito triste e até desesperador admitir tamanha barbaridade, mas como S. Paulo diz: “se não se ama o irmão que se vê, como amar Deus que não se vê”. Amamos a Deus, a Cristo na pessoa dos irmãos. Igualmente desamamos a Deus no nosso desamor aos irmãos. Ora, cada vez que de uma forma ou de outra atentamos contra a vida de um de nossos semelhantes, atentamos contra a vida de Deus. É preciso lembrar que nossas vidas são prolongamentos da vida do próprio Deus. Nossa vida provém d'Ele, não é nossa, mas a recebemos pelo dom gratuito de Deus para que seja vivida com todo Amor e carinho que merece.

Deus, como bom Pai, quer fazer parte da vida dos seus filhos. Quer viver nos corações dos homens. Mas pode morrer neles ou por causa deles. Morre nos casamentos desfeitos, nas famílias destruídas; morre nas crianças abandonadas, nos jovens drogados; morre naqueles que abandonaram a fé; morre por causa da miséria que assola o mundo, pela fome que mata suas criaturas indefesas; morre pela violência que destrói as possibilidades de paz; morre nas injustiças, nas discórdias; morre na guerra; na prostituição, na bebida; nas orgias, na exploração...

Segundo Bento XVI, “O espírito moderno perdeu seu senso de direção”. Diante disso, ficam as incertezas: Quais regras transmitir aos filhos? Como usar nossa liberdade corretamente? O que é moralmente correto ou errado?

E qual o resultado? Uma crise moral sem precedentes numa sociedade sem Deus, onde tudo é permitido, como preconizou Dostoievsk.

Se admitíssemos a estreita ligação entre a vida de Deus e a vida humana, entre Cristo e os nossos semelhantes, provavelmente agiríamos de outro modo. Se adotássemos a pedagogia do Amor em nossa vida, certamente o mundo seria diferente. Entretanto, enquanto não conseguimos identificar o Cristo em nossos irmãos, especialmente os mais necessitados e enfraquecidos, enquanto seguirmos não a vontade e o projeto de Deus, mas a vontade e a voz do mundo estaremos adiando indefinidamente a nossa responsabilidade pelos cuidados da Vida, tanto a nossa como a dos outros. Vamos adiando para que, num futuro que não sabemos quando, diante do próprio Cristo, sejamos cobrados: “Que fizeram com a Vida que, gratuitamente, lhes emprestei?” ou “O que foi feito do Amor que semeei em seu coração?”...

Que Deus nos ajude a termos respostas!

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