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Publicado: Terça-feira, 17 de junho de 2014

Marnie, Confissões de uma Ladra

Marnie, Confissões de uma Ladra
"Marnie" um excelente trabalho de Hitchcock

Alfred Hitchcock é um mestre do suspense isso todos sabemos, qualquer espectador menos atento pode observar isso apenas vendo sua filmografia. Com uma extensa lista que vai de “Psicose”, “Disque M para Matar”, “Um corpo que cai” e o incrível “Janela Indiscreta”, ele se afirma como um mestre nesse gênero.

Uma das principais características nos filmes de Hitchcock é como ele consegue misturar o assassinato, suspense ou até a motivação do personagem com a psicologia que influencia a trama. Um exemplo é “Psicose” com Noman Bates (Anthony Perkins) no qual a mãe do personagem ainda se mantém viva dentro da cabeça de Norman. Poderíamos classificá-lo na primeira vez que assistimos ao filme como um sintoma clássico de esquizofrenia, paranoia, bipolar e etc... Mas mais ao fundo passando por essas camadas podemos encontrar rastros de incesto na personalidade do personagem, mas não é abordado no filme, mas o diretor deixa a entender que ele tem um passado mais escuro do que é apresentado na primeira vez em cena. E esse grito da psicologia é muito bem retratado, principalmente na parte final, onde ele tem um duelo mental com a sua mãe morta dentro de sua cabeça.

Hitchcock sempre gostou de usar isso nos seus filmes e não deixar explícito alguns elementos em cena no qual o espectador poderia decifrar nos primeiros instantes, ou seja, ele usava o próprio recurso técnico com ângulos de câmeras ou até a iluminação do cenário e também a questão narrativa. Ele sabia manipular isso muito bem, em “Marnie, Confissões de uma Ladra” o filme é um misto de gêneros que se dissolvem num final arrasador. Ele começa com uma historia de gênero policial, passa por um romance e depois melodrama até finalmente abordar novamente um suspense psicológico, onde as peças de tudo que ele aborda vão se encaixando uma a uma. 

A história começa com um plano aberto de uma mulher de costa caminhando para pegar um trem. Não sabemos quem ela é ou o porquê dela andar com uma bolsa amarela, e a câmera da um close na bolsa em todo o momento. Logo temos um corte e vamos para um escritório onde o dono acabou de levar um golpe, sua secretária acaba de roubar um dinheiro do cofre, e ele começa a descreve - lá e percebemos que se trata da moça na estação de trem. A mulher em questão é Marnie (Tippi Hedren) uma pessoa que passa a vida a dar golpes, o incrível da apresentação do personagem é como em poucos minutos você descobre um pouco sobre ela, que mesmo com a narração a descrevendo, é uma ilusão sobre quem é Marnie. Nessa cena em questão, enquanto ele a descreve sobre sua aparência de ela ser morena, branca, baixa Ou até seu comportamento profissional e etc... Ela já começa a se transformar mudando de identidade, e vemos também que Marnie é uma pessoa que tem problemas com a mãe, quando ela vai visita-lá.

Ao avançar do filme ela se envolve com Mark (Sean Connery) um rico dono de empresa que descobre sua farsa, mas como tinha se envolvido com ela antes de descobrir a verdade, ele se apaixona por ela. Assim, temos um lance de melodrama, onde Marnie foge dele e Mark a caça, já que tem um instinto de poder e também de gostar de domar animais, então ele vê ela como um prêmio pronto para ser pego pelo seu ego. Um desafio a sua vida, ele propõe de se casarem e caso ela não aceite, Mark a entregaria a polícia, sem rumo ela aceita o pedido e assim começa uma jornada na mente de Marnie.

Na lua de mel, ela tenta suicídio quando Mark faz sexo com ela. Desesperado, ele começa a estudar alguns sintomas que Marnie apresenta como o medo de raios, o pavor pela cor vermelha e etc... Ele começa a investigar e descobre que a mãe de Marnie tinha cometido um assassinato quando jovem. Então ele julga aquilo como a principal fonte do trauma de sua esposa. Quando finalmente o filme vai avança, e os três entram em choque descobrimos a verdade. Achei muito bem bolado a câmera nessa cena, porque ela é fixa, mas ao mesmo tempo treme principalmente na cena em que eles chegam à casa de mãe de Marnie e ela fica torta e aos poucos quando o trauma vai se acertando é quando a câmera fica fixa no ponto certo, mostrando sutilmente o retorno do equilíbrio mental da personagem.

Alguns pontos são negativos no filme, como toda hora parece que o diretor quer lembrar que a personagem é desequilibrada então ele reforça muito os elementos que provocam isso, como o vermelho aparecer mais como uma figura debochada que lembrou muito bem os filmes “B” de terror ou até produções italianas como o “giallo”. É uma coisa que Hitchcock poderia ter maneirado e não ser tão explicito, mas claro que isso não prejudica o filme já que tecnicamente ele é excelente como os truques de câmeras que são simplesmente geniais, o uso do som diegético para compor a trama, ou melhor, os pesadelos da personagem e claro todo o talento de Connery e Hedren com quem teve uma relação tubulosa com o diretor.

Hitchcock é um mestre do suspense, sem sombras de duvidas, mas vou além e digo que ele é um mestre dos gêneros e consegue abordar muito bem cada estilo em um filme só. Vale à pena conferirem a filmografia desse diretor fenomenal! Seu legado é uma das maravilhas da sétima arte, ou melhor, de todas as artes, até da psicologia. 

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