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Publicado: Sábado, 12 de julho de 2008

Maria vai com as outras

Quando um coração
não vibra, não late, não sente
como simples gente,
autêntica,
a
projetar-se além da vida,
Quando abúlicamente  não
se insurge contra a injustiça, a  discriminação, a tacanhez,
a fome própria ou alheia,
a ignorância que singra e campeia solta ,  livre pela aldeia,
Quando dá guarida cândida
às sensações menores, como a aspiração fervorosa pela sorte,
às crenças  no azar,
crendices ou fé religiosa na astrologia,
certa ânsia ou carência neurônica
de doping, magos, anjos e magia,
cultivo e ilucidez da cegueira-conselheira,
tantas vezes negada, tantas vezes confessa, crédula ou matreira,
Quando apenas ódio mascarado, cínico ou ostensivo, preserva a exteriorização das emoções,
Quando esse coração não se abre generoso à humanidade
e do sangue espesso não passa de mero escravo servidor,
órgão motor, bombeador obediente
ao tic-tac ou pump-poc
mecânico, regular, regulador
milimétrico da função,
não é coisa nenhuma ! . . .
Não é órgão vital, vivificador,
mas tão somente o artifício mantenedor da vida ausente,
de um tipo especial de errático  e desvirtuado cálculo ou morte virtual , sempre presente,
latente irrigador eficiente de acefalia pessoal
vegetativa, cujo arbítrio
decisório
é
só a  “sorte”,
o “topo do muro”,
“o sabor das ondas”
“ sombra e água fresca”,
“il  dolce  far  niente”,
o esguio pio “não me comprometa”,
o risível chío “deixa estar como está para ver como fica”,
tempêros , afrescos corriqueiros
por onde costumeira e familiarmente
transcorre o bom humor dos  garimpeiros. . .
Aí vai Maria, que adora a moda, as ondas e os enganos,
Lá vai ladina  por ruelas,  avenidas, e portais,
vicejando  mal cheirosa e tão gaiteira
por tortuosas e pouco nítidas vielas,
infectos becos insalubres, tugúrios obtusos de seus lúgubres neurônios,
com os quais se acostumou e neles sempre morou,
Lá vai ela em romaria
numa algazarra de potras,
fogosa,  alegre, brejeira,
lá vai rompante, Maria,
“ Maria ,vai com as outras” . . .
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