Colunistas

Publicado: Domingo, 1 de março de 2009

Mangiare

Crédito: Google Imagens Mangiare
A mesa posta é cama feita. Lombos e salames vão sugerindo indecências, o sol de mezzogiorno deflora as fogazzas. O ventre e a vitela ao mesmo tempo, um mesmo pasto. Carnes em lanhos atiçam o quase incesto, a desonra. Não tarda o ataque, por baixo da toalha, às coxas esguias. Ele a belisca, é a senha de que a aguarda no caramanchão.
 
- Que a nonna não nos veja.
- Ela ora sua novena, se abana e reza, reza que só ela... terminou mais cedo o almoço, daqui a pouco começa a tarantela e ninguém mais escuta niente.
- Perdido, immondo. Somos primos.
 
Um peito mínimo na palma da mão, o outro dá-se al sugo. Più perfetta Sofia. Pingo de vinho na blusinha branca, sorve-se ali, de pé e na pressa, o cálice da tentação.
- Sporcaccione maledeto.
- Cala que te arranco a língua, tão feita pra se enroscar na minha, un vero desperdício.
- Animal, svergognato. Madonna mia.
 
Primo e prima, due al dente. Pronto, é manchado o brasão virtuoso dos Tartini. Além do falatório ao longe, o único sinal da famiglia é a fumaça do cachimbo do nonno, entre um bocado e outro das carnes se comendo no caramanchão.
Comentários