Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 22 de maio de 2006

Mais uma vez, às urnas

Quem definiu o homem como um animal político foi Aristóteles, quatro séculos antes de Cristo. Ainda que não seja a melhor definição desse desconhecido que continua sendo o homem no dizer do Nobel da Medicina Aléxis Carrel, é preciso aceitar que é, sem dúvida, uma boa definição. Até quem diz que aborrece a Política está assumindo um posicionamento político, aliás, o pior de todos, pois afirmou Bertold Brecht, em uma página clássica, nada ser pior que o “analfabeto político”.

Refiro-me aqui à Política e ao político no melhor sentido, lembrando que a palavra vem de “polis”, “cidade” em nossa língua. Político é, pois, aquele se interessa pelos problemas da cidade, de sua cidade e do seu país. Alguém que não se preocupa somente com os próprios problemas mas com o bem comum, o pão na mesa de todos, a moradia para toda a família, a saúde e a educação, o emprego e o salário justo, o respeito à dignidade e direitos de todos, a segurança, problemas eminentemente políticos.

Nesse sentido Cristo, cuja missão principal foi a realização de um projeto salvífico de redenção propôs, também, um projeto político. No bom sentido ele foi um político. Como negá-lo quando se lembra o seu “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”? O “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”? O “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”? Estou convencido de que a coerência na própria conduta pessoal, familiar e social, com os valores do Evangelho, fatalmente nos levarão a uma transformação da sociedade tão desigual e nada fraterna em que vivemos.

Essas reflexões vêm muito a propósito neste momento em que os brasileiros já nos encontramos em um ano eleitoral, bem perto de uma campanha política que se antecipa renhida e decisiva para os próximos anos. Mais uma vez seremos convocados para as urnas. Mais uma vez exerceremos um dos mais sagrados direitos e deveres que temos para com a Pátria: a escolha dos melhores entre os melhores candidatos.

A autoridade civil e qualquer dos três Poderes jamais terá uma autonomia sem limites. Não lhe cabe imiscuir-se no campo do sagrado como, também, não compete aos Pastores da Igreja envolver-se em questões puramente econômicas, de estratégia política e técnicas. Os políticos que têm fé haverão de inspirar a própria ação política colocando-se a serviço de todos, particularmente dos mais pobres e marginalizados. À luz da dignidade de todo homem e de toda mulher, continuei, haverão de legislar, administrar e exercer o direito e a justiça em benefício do povo.

Esse é o conceito de uma verdadeira democracia: governo do povo, pelo povo e para o povo. Esse é o dever primeiro de toda autoridade: servir, promovendo o bem comum. O mais é demagogia, podendo tornar-se uma ditadura. Quando nas decisões políticas de qualquer um dos três Poderes predomina o interesse pessoal`, ou estritamente partidário, estamos diante do partidarismo ou clientelismo. Jamais exercendo uma atividade verdadeiramente política, mas fazendo politicagem. A Política é, como lembram os Padres do Concílio Vaticano II no documento “Gaudium et Spes — Alegria e Esperança”, uma das mais nobres formas da caridade, que se traduz em amor e serviço do bem comum.

Comentários