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Publicado: Sábado, 12 de maio de 2012

Mães que tiveram seus filhos arrancados

Mães que tiveram seus filhos arrancados
Túmulos em ruínas no Cemitério S José-Pirapitingui

As mães da Praça de Maio são mulheres que se reúnem na Praça de Maio, Buenos Aires, para exigirem notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983). Alguns pais, considerados subversivos, tiveram seus filhos retirados de sua guarda e colocados para a adoção durante os cinco anos de ditadura. Quando acabou a ditadura, muitos filhos estavam sob guarda de famílias de militares. A situação é retratada no filme La historia oficial, o primeiro da América Latina a vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro, que mostra uma manifestação do grupo. As mães da Praça de Maio venceram o Prémio Sakharov em 1992. (Fonte: Wilkipédia enciclopédia)

Ainda hoje, numa busca incansável que emociona o mundo, todas as quintas-feiras, as mães realizam manifestações na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada residência oficial do Governo Argentino, mantendo o desaparecimento de seus filhos vivo na memória de todos os argentinos.

Já as mães do Pirapitingui, são desconhecidas, sempre foram desconhecidas, não aparecem nas mídias e nunca ganharam um prêmio internacional e nem sequer tem uma praça. Eram pacientes acometidas de hanseníase (lepra) e internadas compulsoriamente no leprosário do Pirapitingui, a única semelhança com as suas colegas argentinas, foi o castigo que sofreram de ter o filho arrancado de suas mãos. Dor maior até do que a provocada pela hanseníase que gangrenava as extremidades do seu corpo. O motivo da separação compulsória de mãe e filho era até louvável. O Governo pretendia evitar a contaminação do bebê e estancar a epidemia da moléstia no território brasileiro. Assim, logo que nasciam, os bebês eram arrancados das mães e entregues a um educandário. As mães nem sequer recebiam os bebês no colo por uma única vez. Eram privadas de tudo o que há de mais belo na vida, beijar o seu filho.

Esforcei-me para ouvir até o fim, sem chorar, o relato de D. Isabel Pontório. Internada no hospital há 48 anos, teve com seu marido Valdomiro Pontório, quatro filhos: Valdir, hoje com 46 anos, Carlos com 44, Ademir com 42 e Luciene, a caçula com 37. Todos os filhos lhe foram arrancados no leito natal e encaminhados ao Educandário de Santa Terezinha em São Paulo. Todos nasceram livres da doença e assim permanecem. Visitam a mãe regularmente. Seu marido Valdomiro jaz há 20 anos no cemitério São José localizado no hospital.

Quais das mães tiveram dor maior? As mães do Pirapitingui que tiveram os seus filhos arrancados de suas mãos no leito natal, ou as mães argentinas, que conviveram com os filhos uma parte da sua infância e depois foram obrigadas a dizer adeus? Deixo para você, caro leitor, arriscar uma opinião, se quiser.
E o que dizer das mães do Pirapitingui falecidas no hospital durante o tratamento? São centenas, talvez milhares que ocupam hoje sepulturas em ruínas, muitas profanadas, todas sem identificação no cemitério São José, construído dentro do hospital para receber os hansenianos internados que viessem a falecer. As mães do Pirapitingui, perderam agora o seu bem maior, a sua identidade e jazem desconhecidas para sempre, porque as lápides das sepulturas foram todas roubadas, numa das constantes invasões de vândalos ao cemitério, que nunca teve vigilância e é fechado apenas por uma cerca de arame farpado..

Mundo Injusto. Enquanto as mães da Praça de Maio foram homenageadas por organismos internacionais, ganharam diversos prêmios, todos merecidíssimos, as mães do Pirapitingui, permaneceram esquecidas, dos filhos, dos políticos, de todos.

Passados quase oito décadas desde a internação do primeiro paciente no Hospital do Pirapitingui, é chegada a hora de darmos um mínimo de dignidade a essas heroínas e heróis que ali sucumbiram..

Apelo às autoridades constituídas de nossa cidade, do nosso Estado e do nosso Brasil, que em respeito a dor e ao sofrimento vivido neste leprosário, se empenhem na construção de um Memorial aos Hansenianos do Pirapitingui.

Pensei até em como ele deverá ser. Deverá ser construído na área onde existe hoje o cemitério São José.

Todo o cemitério deverá ser tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Deverá ser implantada vigilância 24 horas. O terreno de aproximadamente 25.000 m2 deverá ser totalmente fechado com muros de alvenaria. Poderia construir-se um museu, reconstruir-se as sepulturas mantendo sua localização original para evitar a exumação. Todas as sepulturas seriam revestidas em granito e padronizadas, não existiriam lápides nos túmulos, mesmo porque são covas não identificadas. Seria construído no local um grande parque com muitas árvores e jardins, passarelas para caminhadas e placas de granito polido medindo 2 metros de altura por um metro de largura. Cada placa conteria em letras douradas os nomes de quatro pacientes que ali pereceram. A informação com os nomes dos que ali jazem deve existir nos documentos do Hospital. Seriam necessárias centenas de placas, todas fixadas na horizontal, em pé, numa alusão de como deve permanecer na eternidade a memória destes irmãos sofredores.

O Memorial aos Hansenianos do Pirapitingui, irá resgatar a dignidade dos que ali pereceram e será mais uma atração dessa nossa estância turística.
Os recursos gerados pela exploração turística e comercial do local, deverão ser revertidos em favor das duas centenas de pacientes que permanecem ali internados.

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