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Publicado: Sábado, 7 de maio de 2016

Mãe, só tem uma!

Mãe é tão bom que todos deveriam ter duas. E não é que eu tive?

Sou de fato um felizardo. Fui criado com dois pais e duas mães, desde o primeiro ano de vida quando minha mãe contratou uma nordestina para “me olhar” (como se dizia na época) enquanto ela trabalhava na fábrica São Pedro.

Minha mãe biológica, D. Cida Boni, ainda garota, já tinha a profissão de tecelã na fábrica São Pedro na década de 1950, quando nasci. Era a época do pós-guerra e a industrialização por aqui andava a todo vapor.

A fábrica São Pedro manteve a visão, a missão e os valores europeus. Italiana que era promovia muitos benefícios a seus funcionários como cooperativa para compra de alimentos a preços de custo, ambulatório médico e... creche, onde passei o meu primeiro ano de vida. De tempos em tempos, mamãe deixava a produção e vinha me amamentar. Não era um luxo? E ela dizia que eu era a atração da creche. Gostei mamãe.

Assim permaneci na creche da fábrica até completar o primeiro ano e, então, atendendo ao rigoroso regulamento, tive que ceder o meu lugar a outro bebê. Foi nessa ocasião que mamãe contratou um casal de nordestinos sem filhos, recém chegados a Itu, para cuidar de mim enquanto ela trabalhava. Chamavam-se Guiomar dos Santos Trindade e ele Aurelino Trindade.

A princípio, eles deveriam cuidar de mim durante o horário comercial, mas em pouco tempo o amor cresceu tanto, que passei a ficar com eles dia e noite, contrariando a vontade de minha mãe que passava todo dia para levar-me pra casa dela.

Assim eu vivia disputado por uma e por outra, passando dias com uma, noites com outra.

Trago grandes lembranças dessa época, pois logo cedo aprendi a usar o que cada uma tinha de melhor: a simpatia, paciência e amor da mãe biológica e os cuidados, conselhos e preocupação da adotiva.

Minha mãe Cida assinava as advertências na caderneta da escola sem contar para o meu pai; minha mãe Guiomar entrava nas minhas brigas sempre me defendendo nas minhas brigas com garotos e até com alguns professores.

Como sabemos: tudo o que bom dura pouco. E a regalia desses tempos veio a custar-me muito caro, quando as duas se foram. Sinto até hoje a dor de perder uma mãe, em dobro. Fazer o quê? Tudo tem seu preço mesmo.

Agradeço à Deus pelo privilégio Dele ter me dado duas mães com duas mães. Espero ter honrado o seu quarto mandamento.

Peço que um dia Ele estenda essa riqueza de ter duas mães à todos os mortais.

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