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Publicado: Quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Liderança Insustentável

Liderança Insustentável
Para a mídia foi o bom que ficou gravado com a foto da vitória do presidente Hollande, que claramente estava mais preocupado com o clima das eleições no dia seguinte do que com o clima do planeta.

Hoje faz um mês que 150 chefes de estado se reuniram em Paris para dar início à COP21. Em meio aos atentados terroristas e às grandes tragédias ambientais, ambos causados pela nossa desumanidade, inicia-se a finalização de um processo que começou na Rio+20 em 2012 e acelerou-se em 2014 na COP20 em Lima, que passou os últimos 12 meses negociando o acordo a ser homologado em Paris.

Ou seja, na abertura da COP21 que foi antecipada para o dia 29/12 (domingo) o documento já deveria estar quase pronto mas ainda tinha 50 pontos para serem negociados. Realmente, 185 países dos 196 participantes enviaram suas propostas quanto às ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa. No dia seguinte (30/12) segunda-feira, os chefes de estado posaram não apenas para a foto oficial, mas para aparentemente mostrar seu apoio integral às resoluções a serem tomadas. Os delegados trabalharam durante a semana toda e ao final deram a impressão de que veríamos um fracasso equivalente à COP15 de 2009 em Copenhague. Havia mais 900 palavras em colchetes para serem resolvidas. A entrada dos ministros na semana seguinte de negociação piorou ainda mais as expectativas quanto a um resultado positivo para o documento. Alguns países como a Arábia Saudita e o Iraque declararam claramente a intenção de boicotar a COP21. Além dos problemas anteriores com a China e a Índia.

O resultado que vimos no sábado 12/12 foi péssimo se levarmos em consideração que estamos caminhando desde 2012 e bom se levarmos em conta o que estava acontecendo nas 24 horas anteriores. Para a mídia foi o bom que ficou gravado com a foto da vitória do presidente Hollande, que claramente estava mais preocupado com o clima das eleições no dia seguinte do que com o clima do planeta. Para o resto dos mortais, distantes do poder, o resultado foi bem ruim, principalmente por camuflar as evidências da nossa crise civilizatória. Dá a impressão que "estão" resolvendo! Não estão! Estão ganhando tempo... ou melhor (pior) perdendo tempo!

Esses 150 chefes de estado estão em sua grande parte na contramão da Sustentabilidade e serão lembrados mais pelos crimes contra a humanidade do que por seus talentos como líderes. O mesmo está acontecendo no meio corporativo. Estamos migrando para um momento de maior transparência e liderança sustentável. O modelo de negócio da maioria das empresas que causa problemas na área da Sustentabilidade, principalmente no meio ambiente tem em sua liderança pessoas totalmente despreparadas para transformar esse novo momento da nossa crise civilizatória. Estamos assistindo a queda do império dessas empresas, que de uma forma orgânica ou catastrófica estão se dissolvendo ou se reinventando.

Em entrevista à Miriam Leitão na Globo News, o presidente da Vale fala como se fôssemos todos idiotas (e provavelmente somos). Senti vergonha alheia! Ele disse coisas como “a Vale a e Samarco são concorrentes” e afirmou "Eu nunca soube quem são os clientes da Samarco e nós não poderíamos saber." Como assim? Se a Vale tem 50% da Samarco e a Anglo-Australiana BHP Billiton os outros 50!

É só pesquisar alguns minutos no Google e qualquer um de nós pode saber. A maior pérola que deve ter feito amigos e parentes se esconderem atrás do sofá de onde assistiam a entrevista foi: "Por mim, hoje, a Vale do Rio Doce deixaria de ser a Vale DO Rio Doce para ser a Vale PARA o Rio Doce." Em outro momento disse que lhe causa muita perplexidade até, a despreocupação das pessoas: "A Samarco tem 5.200 pessoas, eu imagino o grau de incerteza que vai dominar no Natal delas." E quanto ao grau de incerteza da fauna, da flora, dos recursos hídricos e das milhões de pessoas ao longo de uma área do tamanho de Portugal? Por fim, o presidente diz que a Vale em setembro (2015) ganhou um prêmio de melhor empresa do ano na visão de 850 analistas da América Latina. Não fica óbvio que as métricas e os líderes dessas empresas estão COMPLETAMENTE fora dessa nova realidade?

Quanto tempo levaremos para essa migração? Temos esse tempo? O que anima é ver que há cada vez mais líderes (presidentes) voltados genuinamente à Sustentabilidade. Vamos reforçar esse time! A transparência veio para ficar e será cada vez mais difícil se esconder atrás da desinformação. Que venha 2016!

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