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Publicado: Segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Lições da Turquia

O que existe em comum entre o turista brasileiro e o turco? É que ambos preferem passar férias na Turquia. Qual o segredo de um país que com um território de 783 mil km², mais de dez vezes inferior ao brasileiro, atrair, só em 2010, quase 29 milhões de turistas, enquanto o Brasil registra um número seis vezes menor de visitantes?

Nem mesmo barreiras como a distância geográfica ou o idioma ininteligível para a maioria é capaz de afetar o fluxo intenso de turistas, fazendo da Turquia hoje um dos dez principais destinos do mundo. Mesmo com um Produto Interno Bruto (PIB) que é menos da metade do nosso, em 2009 o país conseguiu captar US$ 21,3 bilhões, o que correspondeu a 2,5% dos US$ 852 bilhões de receita cambial global gerada pelo turismo no mundo. Enquanto isto, o Brasil mal arrecada US$ 6 bilhões, ou seja, menos de um terço do que obtido pelos turcos.

Indústria séria – Creditar à história milenar e à própria riqueza cultural a principal razão do sucesso do turismo turco é uma visão simplista. Afinal, esses impressionantes resultados despontaram em dez anos, conforme atesta o Ministério da Cultura e Turismo da Turquia (aliás, um indicador sintomático: Turismo e Cultura lá são uma única coisa). Turismo no país é tratado como indústria séria, e não corre o risco de ser relegado à direção da ovelha da vez de algum curral eleitoral do país. Diferentemente de alguns países tropicais, as autoridades turcas, ocupadas em traçar planos para o seu turismo, não têm tempo para receber homenagens e premiações para glorificar seus egos em troca de benesses. 

Resultado de uma estratégia integrada entre os setores público e privado, os turcos colhem bons resultados em diversas frentes. Os visitantes lotam seus eficientes e confortáveis aeroportos, evidentemente que operados pela iniciativa privada. 

A segurança nas cidades permite ao turista caminhar com tranquilidade a qualquer hora. Imaginar que caixas automáticas expostas 24 horas nas ruas, praças e próximas a pontos de interesse possam ser explodidas, como no Brasil, não passa pela cabeça nem do pior malfeitor turco. 

Tampouco os visitantes correm o risco de serem furtados ou maltratados enquanto fazem compras pelas 4,4 mil lojas do Grande Bazar de Istambul. 

Profissionais de agências, hotéis, restaurantes, táxis e comércio compensam a barreira cultural ou o inglês mambembe com simpatia e hospitalidade. Com esses e outros predicados, tudo conspira a favor do país: a comida exótica, a história fascinante e a beleza natural. Enfim, eis um povo que faz de tudo para agradar, pois sabe que turismo é garantia de emprego e renda. 

Há ainda um item que merece destaque: a principal companhia aérea da Turquia soube fugir à regra atual do setor de tratar mal o passageiro, principalmente em conforto. Ela lembra a velha Varig, cuja gestão é hoje tão criticada, mas que representou a bordo, no passado, a cordialidade brasileira. Por isso, viajar pela Turkish Airlines é antecipar a cortesia e o prazer de chegar à própria Turquia. 

Será que não vale a pena profissionais de turismo, governo e não governo, e a quem não se pode negar seriedade e bons propósitos, aprender um pouco deste modelo de sucesso da Turquia?

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 6 de outubro, no Diário do Comércio de São Paulo.

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