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Publicado: Domingo, 7 de fevereiro de 2010

Lição para vida toda

Lição para vida toda
A escola boa se faz com gente. Gente capaz!!!

Sempre acreditei no poder da sala de aula, seja para o bem ou para o mal. A força do outro na construção do “eu” ganha potência no contexto escolar, porque reflete diretamente na habilidade de maior valor para o desenvolvimento pessoal: a capacidade de aprender.

São muitas as histórias de vida que revelam momentos decisivos marcados pela atitude de um professor. Gosto muito da passagem contada pelo saudoso educador Paulo Freire, quando no auge da sua adolescência, incomodado com seu corpo obeso e sentindo-se rejeitado pelos colegas da turma, foi elogiado publicamente na sala de aula por um professor que se encantou com sua produção textual e com isso lhe mostrou o caminho do sucesso pessoal e intelectual. Aliás, não posso deixar de dizer que se existe alguma regra de conduta ética na educação emocional, sobretudo entre pai e filho ou professor e aluno, ela se traduz em sempre elogiar o educando publicamente e corrigir individualmente, de preferência, no “pé da orelha”, entre quatro paredes.       

Por isso atribuo imensa responsabilidade ao professor: quanto menor seu aluno, maior sua responsabilidade. 

Envolvida e empenhada em um novo projeto profissional, estudei o relatório “Como os Sistemas Escolares de Melhor Desempenho do Mundo Chegaram ao Topo”, realizado pela Mckinsey & Company, importante consultoria mundial em soluções de problemas críticos em gestão pública e privada. Sem muitos rodeios e precisamente pontual o relatório apresenta as 4 principais lições retiradas dos 10 melhores sistemas escolares desenvolvidos em países, como Finlândia, Coréia do Sul, Bélgica, Cingapura, Hong Kong, Nova Zelândia, entre outros.   

Confesso que as lições apresentadas não me surpreenderam. Na verdade, para quem vive intensamente o dia a dia da escola, as lições reveladas são velhas conhecidas. O que chama minha atenção é a ratificação científica do óbvio, permitindo aos países com disposição para a valorização do sistema educacional, a conquista de excelência no seu desempenho.

Mas, o que de fato mesmo me interessa é a lição número 1. Apresentada em sequência de prioridades, a primeira lição refere-se à qualidade dos professores e a classifica como a alavanca mais importante para melhorar os resultados dos alunos. Por isso, os sistemas de alto desempenho dificultam o ingresso na carreira de magistério. Finlândia, por exemplo, adota uma triagem rigorosa: academicamente, além da exigência do diploma universitário, os candidatos à carreira do magistério devem estar entre os 10% melhores de sua faixa etária. Depois, passam pela verificação das habilidades técnicas com exigência alta do conhecimento do idioma e da matemática. Etapas vencidas, os candidatos ainda serão entrevistados e monitorados durante os primeiro anos do exercício da profissão para verificação das atitudes, aptidão e personalidade. Com isso, os registros do processo seletivo revelam que apenas um em cada dez candidatos é aceito como professor.

Por incrível que pareça, as demais lições também estão diretamente vinculadas à qualidade profissional. Vejamos: Lição 2, melhorar a prática do professor com estratégias de trabalho formativo. Lição 3, adotar regularmente avaliação externa para verificação do rendimento escolar. E por último, a lição 4 determina a necessidade de recrutar e formar excelentes diretores.

Dessa forma, não me restam palavras. As 4 lições do relatório bastam para nos incomodar e, infelizmente, nos desesperançar frente à condução política do nosso sistema educacional. No entanto, ainda insisto no poder individual, nas ações rotineiras, de pouco visibilidade, na maioria das vezes escondidas no interior da sala de aula. É nesse contexto que as lições são aprendidas e muitas delas, levadas para a vida toda.

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