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Publicado: Segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Lições da Imaculada Conceição para tempos de erotismo

Pastor da Igreja, tendo me empenhado desde 1952 em pastoral da juventude, estou preocupado com os descaminhos que a maioria dos nossos jovens de hoje vêm percorrendo. A leitura de qualquer diário traz em suas páginas policiais graves fatos envolvendo jovens de camadas populares e da chamada elite social. Sobram vistosas e ilustradas revistas sobre nudismo feminino e masculino. Perdem-se de conta quantos adolescentes e jovens se entregam à farra e à violência, ao tráfico e uso de drogas, desmotivados e sem valores, cuja vida vai passando de motel em motel, de “repúblicas” a “clubes” em que o sexo tem curso livre.

Vivi no meio universitário nas décadas de 1950 e 1960. Convivi com milhares de rapazes e moças, que cursavam filosofia e pedagogia, letras e direito, odontologia, ciências econômicas e administrativas, biblioteconomia e outras Faculdades. Posso atestar que a absoluta maioria levava a vida a sério não ignorando que, excepcionalmente, já existiam rapazes e moças transviados. Havia sim, mas eram bem menos do que hoje.

Muitos integravam a juventude universitária católica nos tempos em que recebiam uma séria formação religiosa e ético-moral, dedicando-se à evangelização do próprio meio, dos seus colegas de curso ou classe.

Correram décadas. A situação inverteu-se. Hoje a absoluta maioria dos jovens, de modo particular universitários, descambou, pro dolor, para comportamentos tresloucados e irresponsáveis. Inúmeros adolescentes e maior número de universitários colocaram Deus de escanteio em suas vidas.

Afastaram-se da Igreja, comunidade de fé, entregando-se a uma conduta que se pauta pelo indiferentismo religioso, pelo relativismo ou permissividade moral, pelo anticlericalismo.

Violência e bebidas, gandaia, drogas e sexo, é o que lhes interessa. Claro que há exceções. Talvez de 10% a 15% deles se mantenha distante desses descaminhos, inseridos em comunidades de jovens nas paróquias, integrados em novos esperançosos Movimentos da Igreja como o Emaús, a Renovação Carismática Católica, o Focolares, as Comunidades Neo-Catecumenais, o TLC, a Canção Nova e outros. Mas, certamente são minoria, desconhecidos pela grande mídia.

Em outros países do Ocidente “cristão”, seria diferente a situação? A leitura, dias atrás, de uma reportagem muito bem feita na secção de livros da “Folha de S. Paulo”, edição de 21 de novembro, acabou me deixando ainda mais preocupado. John Freeman analisa o livro “A Fogueira das Vaidades”, de 1987, bestseller do conhecido escritor norte-americano Tom Wolfe.

Antes de escrevê-lo, o autor visitou onze das grandes Universidades dos Estados Unidos, de olhos abertos para a realidade do meio universitário, entrevistando não poucos jovens dos dois sexos e professores.

Prepare-se o leitor para ler o que sintetiza o referido bestseller: “Ambientado na fictícia Universidade Dupont, o livro mergulha fundo na alma frita em óleo dos EUA e volta à tona com um retrato escandalizante do vazio pornográfico do investimento em Faculdades: as farras e bebedeiras, as traições, as transas e a adoração dos atletas... Os jovens são ignorantes porque uma coisa, e apenas uma, domina seus pensamentos: o sexo. A heroína do livro é uma moça ingênua e esforçada da zona rural da Carolina do Norte a quem a vulgaridade do ambiente social da Universidade provoca asco...”.

Lá e cá as coisas não vão bem e, ao que me consta, também vão mal por toda a Europa Ocidental. Depois da queda do Muro de Berlim, do desmoronamento do Império Soviético, também na Rússia de hoje, na Hungria, nas Repúblicas Checa e Eslovaca, na Alemanha reunificada e, até certo ponto, na Polônia de João Paulo II, as coisas não vão bem. Poderão, espero, não estar tão mal quanto entre nós e nos States. Sobre a situação na Inglaterra, Irlanda e Escócia, não disponho de informações. Sei que por lá a paixão pelo futebol é tal que os torcedores fanáticos deste ou daquele time vivem se agredindo e matando.

Esperemos que em Londres, Glasgow e Dublin o comportamento ético dos jovens seja melhor do que entre nós.

É nesse mundo erotizado e permissivo, neste Brasil hedonista, com uma juventude e, não raro, com adultos sem valores e descrentes, politicamente alienados e moralmente corruptos, que estamos celebrando os 150 anos da solene definição do dogma da concepção imaculada de Maria Santíssima, a Virgem de Nazaré, em cujo ventre se encarnou o o Verbo, o Filho de Deus, em Nazaré da Galiléia, no princípio da era cristã. Acabo de ler, recortar e reler um erudito, denso e belíssimo artigo do teólogo sacramentino, Padre Paschoal Rangel. Trata-se de renomado escritor e também diretor da apreciada revista “Atualização”. Continua, mesmo avançado em anos, como diretor d’“O Lutador”, difundido semanário católico, Brasil afora, que leio vai para 50 anos. Já o título do artigo, de página inteira, é chamativo: “Num mundo todo erótico, uma Virgem”, edição de 1o de dezembro último.

Padre Rangel oferece aos seus leitores importantes e, em geral, ignoradas informações, sobre os antecedentes da proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria. O Papa Beato Pio IX que o proclamou, nos anos de 1852 e 1853, antes que em 08 de dezembro de 1854 promulgasse a histórica bula “Inneffabilis Deus”, definindo como doutor da fé, “ex cathedra”, a bela verdade em que, aliás, a Igreja do Ocidente e do Oriente sempre acreditou, desde os tempos apostólicos. Ouviu todo o episcopado católico e os maiores teólogos daquele tempo. A opinião geral foi amplamente favorável à definição do dogma.

O citado autor transcreve substanciosos textos favoráveis ao dogma, não só de teólogos como Raymond Corrigan, SJ, mas, também, de cientistas como C.G. Jung. Pena que não disponho do espaço para transcrevê-los. Mas, sintonizando com Paschoal Rangel, termino endossando as suas palavras finais: “Como há 150 anos atrás, ela — a Imaculada Conceição — dava uma resposta ao liberalismo materialista e confirmava indiretamente o múnus petrino do Papa. Hoje ela vem dar um grito de alerta e de esperança no meio de uma sociedade afrodisíaca, ainda e sempre materialista. Num mundo erótico, uma Virgem” (conf. página 03).

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