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Publicado: Segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Kardecismo e Cristianismo: Inconciliáveis

Alguns me acham polêmico. Anos atrás discuti em editoriais d’“O São Paulo” com o escritor católico Gustavo Corção. O problema que nos separava eram as diferenças entre o cristianismo, o marxismo e o capitalismo. Corção faleceu e deixou obras que merecem ser lidas. Eu continuo vivo pela graça de Deus e persisto em minhas convicções, que têm fundamentos religiosos e bíblicos, científicos e filosóficos.

Essas reflexões me ocorrem sempre que, em consciência, sou obrigado a discordar de amigos ligados à maçonaria, ao racismo, ao espiritismo e a outros “ismos”. Tenho uma certa cultura e o dever de alertar a alguns desavisados que ficam à margem dos problemas, sem terem razões sérias e valores como pontos de referência para os próprios posicionamentos. Hoje continuo tendo o respeito que nunca faltou no relacionamento amigo com protestantes e mesmo com pessoas espíritas, algumas até parentes.

No século 19 houve, na França, alguém que dizia possuir o espírito de Allan Kardec. Na verdade chamava-se Leon Hypolite Denizart Rivail. Afirmando que Kardec o “inspirava”, escreveu alguns livros como “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Empolgou certo número de pessoas, primeiro entre os franceses e depois um pouco por todo o Ocidente cristão. Parece que muitos jamais leram suas obras e continuam tentando conciliar o inconciliável: kardecismo com cristianismo.

Como sempre procurei ser objetivo, mas com senso crítico, desejo iniciar este artigo lembrando que nem tudo nos distancia. Entre o que nos aproxima, lembro que todo kardecista aceita a existência de Deus Criador, afirmando termos todos a necessidade de uma purificação, destinados a uma outra vida após esta. Menos mal. Porém, é pouco e nem se trata de princípios e verdades da fé cristã, como espero mostrar a quem ler estas linhas com serenidade, firmado não em sentimentos, mas em motivos racionais-científicos, religiosos e éticos.

O ponto fundamental e referencial de A. Kardec e dos espíritas com certa instrução e equilíbrio, que não misturam “alhos com bugalhos”, e não fazem salada de frutas religiosa, é o problema da reencarnação. Quando “desencarna”, o “espírito” peregrina por aí, na imensidão do cosmo, voltando a se reencarnar uma, dez, vinte ou mais vezes, até que atinja uma purificação total. Os kardecistas não falam em “redenção”, o que é fundamental para todos os cristãos católicos, ortodoxos e evangélicos.

Afirmam que a reencarnação é necessária, embora seja incerto o seu número. Não há julgamento dos que morrem, colocando-os em uma situação de salvação ou condenação definitiva. Embora delicado, devo lembrar que para certos espíritas as reencarnações sucedem-se indefinidamente. Para uns podem dar-se em mundos imaginados. Para outros é até possível que um “espírito” reencarne em um animal! Sinal de que para os irmãos kardecistas nem tudo é tão claro como afirmam.

A reencarnação é originariamente uma crença hinduísta e budista não tendo qualquer fundamentação bíblica. Recomendo alguns trechos tirados da “Bíblia de Jerusalém”, que possui a mais fiel de todas as traduções das Sagradas Escrituras:

“Que em teu meio não se encontre alguém que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos, pois quem pratica essas coisas é abominável a Yahweh” (Dt 10,12).

“É fato que os homens devem morrer uma só vez” (Hb 9,27).

“Filho, tem compaixão de mim que por nove meses te trouxe em meu seio e por três meses te amamentei... Eu te suplico meu filho, reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez e que também o gênero humano surgiu da mesma forma. Não temas! Aceita a morte a fim de que eu torne a receber-te com eles (teus irmãos) na misericórdia” (2 Mac 7, 28-29).

Para quem deseja uma palavra do próprio Cristo, segue esta: “Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo’... Em seguida dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos’... E irão estes para o fogo eterno enquanto os justos irão para a vida eterna!” (Mt 25,31-46).

Como conciliar, neste ponto central para todos os kardecistas, a reencarnação com o a Palavra de Deus proclamada por Cristo e professada por nós cristãos?

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