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Publicado: Sábado, 13 de fevereiro de 2010

Itu no Carnaval da Globo

Como sabemos, este ano Itu estará no circuito carnavalesco paulistano. Será o tema principal do samba enredo da escola Império da Casa Verde. Os que não gostam dos agitos carnavalescos questionam tal iniciativa, alegando que o governo municipal há de ter gasto vultuosas quantias a fim de patrocinar a empreitada.

De fato acredito que não apenas na cidade de Itu, mas no Brasil de uma forma geral, as verbas públicas deveriam ser usadas para iniciativas mais úteis do que patrocinar plumas e paetês. Faltam seringas e algodão em postos de saúde dos bairros. Faltam giz e livros nas escolas. Faltam serviços de recapeamento asfáltico.

Na democracia, entretanto, todos devem ser ouvidos. E a arte da política é justamente a tentativa de agradar a muitos com pouco. Ai do governante que não ceder uma verbazinha para as escolas de samba de seu município! Ai do governante que não enfeitar a cidade e fizer uma programação carnavalesca local!

Não deixa de ser justo. E também não mata ninguém. Afinal, na maior parte do ano os carnavalescos ficam quietinhos em seu canto, preparando o Carnaval do ano seguinte. Quando chega a época, são no máximo seis dias de barulho, confete, serpentina e samba.

No caso específico de Itu, não é de hoje que estava prometido que a cidade seria tema de uma escola de samba do grande circuito nacional. Creio que a administração municipal acertou deixando que o evento se concretizasse no ano de comemorações em torno do quarto centenário da fundação da cidade.

Não importa em que ordem a Império da Casa Verde desfilará. Não importa em qual horário a Rede Globo irá exibir seu desfile. Quando a escola de samba entrar na avenida, serão uma hora e quinze minutos de exposição massiva na maior rede de televisão da América Latina.

Durante esses 75 minutos, Itu será vista por brasileiros e estrangeiros, em televisores e computadores sintonizados na Globo. Isso não tem preço. Do ponto de vista do marketing, seria necessário um investimento altíssimo para obter o mesmo espaço na mídia.

Não sou muito adepto do carnaval. Prefiro usar o feriado mais para o descanso do que para a folia. E além disso tenho que confessar que não gostei muito do samba enredo da Império da Casa Verde sobre o nosso município. Em sua maior parte, não diz nada. Não passa uma grande mensagem. Sei que estou sendo chato. Afinal, quem quer mensagem em samba enredo? Samba enredo é pra ser sambado, não para ser pensado...

Mesmo assim, comentarei um trecho específico. Diz ele: “Na cana de açúcar... nobreza / No canto do negro... riqueza / Os barões do café trilhando o progresso / Berço republicano, um brinde ao sucesso”. Tal parte lembra o passado glorioso de riqueza econômica de Itu durante o período colonial, quando a cidade era referência na produção de cana de açúcar.

Para que esse refrão fique mais realista, basta inverter as duas frases iniciais. Ficaria muito melhor se tivessem escrito “Na cana de açúcar... riqueza / No canto do negro... nobreza”. Afinal, o açúcar foi o ouro branco e em pó que sustentou a elite brasileira da época. E só foi assim porque o negro foi o verdadeiro nobre da história. Não nobre por ter títulos e posses. Mas nobre por construir nossa história de graça, sem direito a salário, a custo de sangue, suor e mortes, muitas mortes no pelourinho e na senzala.

De todo modo, isto é filosofar sobre um pandeiro. Não adianta muito. O pensamento fica restrito e o que domina mesmo é o tum-tum-para-ti-cundum. Aproveitemos os 75 minutos de glória ituana no carnaval globífero e que este feito possa ser recordado futuramente em DVD e no site do Youtube.

Amém.

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