Colunistas

Publicado: Sábado, 6 de julho de 2013

Itu na Revolução de 1932

Não ficaríamos assustados se questionássemos a grande parte dos cidadãos paulistas e quase ninguém soubesse o motivo do feriado do próximo dia 9 de julho. Já éramos um povo de pouca memória, com a globalização isso se potencializou de maneira assustadora.

O feriado, que lembra o início da Revolução Constitucionalista de 1932, marca um dos momentos mais importantes da história paulista no século XX, quando representantes de todas as camadas sociais se mobilizaram, por orientação de lideranças políticas locais, derrotadas com a Revolução de 1930, para lutar por um estado de legalidade constitucional (e retorno das elites de São Paulo ao poder nacional).

O motivo principal da revolta paulista era reagir à ascensão do gaúcho Getúlio Vargas à presidência da República, ele que fora derrotado nas eleições e deu um golpe de Estado chegando ao poder. O evento, em outubro de 1930 depôs Washington Luís, pôs fim à chamada Velha República (período dominado por cafeicultores paulistas e mineiros) e por isso é também conhecido como revolução porque inaugurou um momento novo na política e na economia brasileira, com a superação de eleições de voto aberto, mais suscetíveis à fraude, o coronelismo, abrindo espaço para desenvolvimento urbano, sobretudo de indústrias. Se a revolução de 30 depôs um grupo político arcaico, instalou no poder um Vargas de comportamento ditatorial, que não respeitou a legislação vigente, impôs interventores nos Estados o que gerou uma reação que tomou caráter popular em 1932.

Em 2013 estamos vivendo um conjunto de passeatas, protestos, que têm motivação político-eleitoral também, mas que tomaram um tamanho e caminhos novos inimagináveis: diversos setores da sociedade mobilizados, exigindo do governo questões importantes de caráter nacional, regional ou local, sobretudo investimento honesto e justo dos recursos públicos na qualidade de vida de toda a sociedade. Em 1932 os paulistas também se mobilizaram pela legalidade, pelos direitos políticos, representando uma nova geração, mais atuante: voluntários, com interesses pelo bem comum tomaram armas contra o governo nacional de Vargas.

O estopim para a revolução de 32 foi o fim trágico de um conjunto de passeatas na capital, quando morreram estudantes, cujos nomes emprestaram as iniciais para que se formasse o movimento MMDC.

A revolução durou três meses. Sem apoio de outros estados, São Paulo foi derrotado. Para os perdedores foi uma vitória, porque, no ano seguinte, veio a Assembleia Constituinte, que planejou novas leis para o país, inclusive dando cidadania eleitora às mulheres e transformando o sufrágio em voto secreto.

Em Itu, cidade com características políticas marcantes, que fora liderança do PRP na geração anterior, e contava com uma unidade do exército nacional, o movimento foi expressivo. Muitos jovens se alistaram como voluntários, formando o 3º Batalhão de Caçadores Voluntários (BCV), com quartel e sede no prédio do Grupo Escolar Dr. Cesário Motta (rua Paula Souza). Ali foi feito treinamento para que os jovens paulistas, cheios de ideais, estivessem aptos a marchar contra o exército da legalidade.

Vale lembrar a participação da sociedade ituana, como aconteceu em outros municípios, doando ouro, mantimentos, remédios e abrindo espaço de suas vidas ao voluntariado. Mais ainda os soldados, nem todos jovens, que deram parte de sua energia à causa da revolução. Destacam-se histórias como a do carioca Tenente Sylvio Fleming (1905 – 1932), morto no fronte, que veio servir o exército no quartel local e aqui se casou com a sra. Nair Xavier. Outros foram voluntários, como Antonio Ignácio dos Santos (Tunha), que já contava quase 40 anos e mesmo assim serviu ao lado de jovens como José Pereira Mendes (Zito Pereira), hoje único sobrevivente entre os soldados. Seu depoimento está registrado no site www.itu.com.br.

Outro ituano notável foi o médico Deodoro de Moraes Lima (1892 – 1963), também voluntário, que atuou como profissional de saúde nas frentes de revolução. Seu acervo está preservado no Museu da Música – Itu, na coleção de sua viúva, a pianista Anna Escobar.

Mulheres atuaram também como voluntárias. Francisca das Chagas Oliveira (Nhá Chica Messias) trocou o vestido pela farda, para instrução de soldados; muitas jovens ofereceram a força de sua juventude por uma causa política importante ao país. Depoimentos ouvi, como de minhas tias Laurinda de Francisco (1914-1998), Maria José de Arruda de Francisco (1915 – 2009) e Ruth de Arruda, esta última a única sobrevivente entre as mulheres, que acaba de completar 100 anos de vida.

Para elas sua participação foi pequena, alguns serviços de costura e cozinha no Instituto Borges, onde estudavam, servindo os voluntários e oficiais paulistas. Talvez não tivessem noção do tamanho de sua atitude por essa causa importante para a história paulista.

O movimento paulista de 1932 deve estar vivo na memória de todos: no conteúdo das escolas, nas instituições, na mídia, para lembrarmos que a sociedade deve se mobilizar por causas comuns e importantes, sobretudo para entender que cidadania é também saber escolher o futuro.

Comentários