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Publicado: Terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Individualidade

A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, no século 19, espalhou-se pelo mundo e promoveu uma reviravolta na maneira de produzir tudo o que existia - de um alfinete a um prédio - além do modo de viver. Foi a partir dela que as máquinas entraram em ação nas novíssimas indústrias e o capitalismo se desenvolveu, tratorizando as individualidades.

Ao longo do século 20, a massificação humana se expressou nos enormes movimentos coletivos da época, como fascismo, nazismo, comunismo e capitalismo - todos eles com um avançado sistema de propaganda destinado a levar o indivíduo a se perder na massa e reduzir sua consciência à mediocridade do senso comum.

Entre as duas guerras mundiais (1914/18 e 1939/45) surgiu a Filosofia Existencialista, com a ideia da angústia do homem diante da massificação e a importância da preservação da sua individualidade.

Inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, o existencialismo se popularizou nas obras de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Apesar do movimento que atingiu, posteriormente, a Psicologia, a massificação como pressuposto capitalista continuou sua trajetória e chegou às moradias dos bairros periféricos, com os conjuntos habitacionais para a população de baixa renda e aos condomínios da
classe média, com a padronização da arquitetura, das cores e das fachadas das moradias.

A pasteurização também se evidencia na ditadura da moda, nos modelos e cores estabelecidas para cada estação, atingindo igualmente homens, mulheres e crianças, que deliram ao usar o que todo mundo usa. 

Recentemente a Chanel lançou uma quantidade limitada do esmalte para unhas na cor verde jade, que desapareceu das prateleiras em quarenta minutos, ao módico preço de R$ 100. Durou pouco a euforia da quase exclusividade: pirateado, o objeto do desejo já se encontra disponível para todas.  

E os celulares, então? Todo mundo tem que possuir o último modelo, mais completo, com opções extras de cores além de um número assustador de funções - que a grande maioria não usa.

Por mais que o indivíduo sequer perceba a perda da sua individualidade, algumas vezes se rebela.Tenho uma amiga que, precocemente grisalha aos trinta anos, decidiu abolir as tinturas para cabelos. Seus problemas começaram quando, ao procurar um xampu adequado, rodou as drogarias e hipermercados da cidade para encontrá-lo... numa loja especializada em cosméticos. Ficou refém. Da marca e da loja.

Para completar, sua opção esbarrou nas críticas dos amigos - envelhece! - além de jogá-la subitamente na categoria das "tiazinhas".

Fazer o que? Se paga um preço alto para se destacar da multidão ou, se preferir, em euros, para ficar exatamente igual a ela. Como disse o dramaturgo Nelson Rodrigues (supondo que disse mesmo), "a unanimidade é burra". Minha amiga concorda com isso.

 

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