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Publicado: Segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Igreja, preservativos e camisinha

Dias atrás Vargas Llosa, escritor peruano de certo renome, mereceu do “Estadão” uma página inteira com farta ilustração, para artigo seu atacando a Igreja católica e defendendo sem qualquer reserva o uso da camisinha-de-vênus. Nunca poderia esperar desse autor tanta desinformação sobre o que pensa, ensina e defende a Igreja católica a respeito da sexualidade humana e, de modo especial, sobre o uso da camisinha. Entendido no assunto, autor de livros sobre a história da Igreja, afetividade, sexualidade humana, casamento, família e direitos humanos, senti-me no direito de enviar para o conceituado diário paulistano uma Nota retificando desinformações e oferecendo argumentos contra as calúnias e anticlericalismo de Vargas Llosa.

O meu e-mail seguiu para o “Fórum dos Leitores” do “Estadão” na segunda-feira, um dia após o inoportuno destaque dado ao referido e injusto artigo. Estou aguardando o que considero, como jornalista, uma espécie de direito de resposta em nome da Igreja de que sou bispo. Leitor do “Estadão” vai para mais de 50 anos, parece que seria direito meu ocupar um espaço que é dos leitores e não do seu editor. Inútil! Durante toda a semana o “Fórum dos Leitores” divulgou o que interessava senão ao jornal, pelo menos ao editor responsável sob os artigos das páginas dois e os editoriais da página três. Houve espaço para muitos e-mails a respeito de tudo, menos para o texto sério e respeitoso que escrevi.

A mesma experiência já tive com a “Folha de S. Paulo”, de que também sou leitor diário e até mesmo eventual colaborador, atendendo a todos os pedidos de artigos que me têm sido feitos pelo responsável por “Tendências/Debates”. Quando o assunto é e-mails para o “Painel dos Leitores”, de amigos e em favor de autênticos valores ético-morais, humanos e cristãos, a probabilidade que o leitor tem de ver divulgada a sua convicção é quase nula. Divulgam quase sempre o que é do interesse do responsável pelo “Painel”. Escrevi ao Otávio Frias Filho, Diretor da “Folha”. Atenciosamente, uma sua secretária tentou dar-me explicações em seu nome. Telefonei para o editor do “Painel dos Leitores”. Disse-me que iria tomar conhecimento dos e-mails recebidos de diversos e autorizados amigos meus de Campinas, Jundiaí e Itu. Tenho certeza de que enviaram uma palavra de apoio e sintonia com o que escrevi, por exemplo, no artigo “Focas Sim, Crianças Não”, a pedido da “Folha”. Nada.

Assim, se você quiser que os seus recados sejam divulgados no “Fórum” ou no “Painel”, desista. Se puder divulgue ao máximo pela internet, ou ponha a mão no bolso e pague o espaço a que tem direito. É lamentável quando se trata de diários com história como o “Estadão” e a “Folha”, certamente conscientes do direito de resposta ou pelo menos de opinião que todos temos como cidadãos e leitores. Como a fatura de um espaço pago é uma fortuna e pode sair sei lá em que caderno e página, com que “Nota de Redação”, estou escrevendo este artigo e divulgando, com atraso de duas semanas, o que o leitor poderia já ter lido no espaço que, em tese, deveria ser nosso. Segue a Nota enviada ao “Fórum dos Leitores” do Estadão, em 24 de janeiro em curso:

“Terminei, decepcionado, a leitura do artigo do escritor peruano Vargas Llosa, divulgado domingo, na página A-20 d’“O Estado de S. Paulo”, de que sou leitor diário.

É lamentável que um escritor como ele esteja tão desinformado a respeito da posição da Igreja católica, acerca da sexualidade humana e dos valores que ela proclama. As diatribes, calúnias e sofismas de Vargas Llosa partem do falso princípio de que todos os meios são justificados pelos fins, sendo o prazer sexual um fim em si mesmo. Afirmar que a Igreja somente justifica a intimidade do casal quando se torna possível a procriação é ignorar, indevidamente, que pares infecundos — e são 20% dos que se casam — casam-se validamente no religioso, sendo certamente nulo o casamento entre impotentes quanto aos atos da intimidade sexual. É ignorar, também, que marido e mulher podem continuar tendo relações sexuais após a menopausa, quando a esposa já não tem mais condições de procriar.

Acresce que justificar o uso de preservativos por parte do homem ou da mulher, é incentivar o sexo, não o verdadeiro amor entre os jovens sendo sabidamente deseducativo. A Igreja, saiba o escritor e seus leitores, não se considera dona das verdades proclamadas por Cristo, mas sua guardiã em questões de fé e moral. Ela continuará respeitando os valores proclamados por seu divino fundador, oportuna e inoportunamente, queiram ou não queiram ouvi-la, hoje e amanhã como ordena o Apóstolo Paulo. Respeitando o direito dos casais ao planejamento familiar, gerando apenas os filhos que podem criar e educar convenientemente, a Igreja prosseguirá afirmando que a geração dos filhos, a abertura para o dom da vida, é um dos sagrados deveres de quem optou pela constituição de uma família. O sistemático incentivo ao uso e abuso dos preservativos, em especial da camisinha-de-vênus, tem se mostrado ineficaz pois apesar dos milhões e milhões neles investidos pelos governantes, beiram hoje a 40 milhões os portadores do vírus HIV, sem contar os infectados por outras doenças sexualmente transmissíveis. No fim, todos acabamos pagando impostos para políticas liberais e permissivas, anti-naturais e imorais.

Além disso, tranqüilize-se Vargas Llosa, pois milhares e milhares de jovens e casais vivem reta e dignamente, na abstinência sexual e na fidelidade conjugal. Nós Pastores da Igreja o sabemos, pouco importando que o escritor peruano continue profetizando o seu fim. Continuaremos cumprindo a nossa própria missão e cada qual responda um dia a Deus, pelas próprias opções honestas ou desonestas”.

Outras falsidades e calúnias históricas, teológicas e morais de Vargas Llosa em seu texto, ficam para futuros artigos, Deus o permitindo.

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