Hotelaria: a nova paixão de Paulus
Quem pensa que o fundador da CVC – a maior operadora e agência de viagens do País – pendurou as chuteiras, está enganado. Há três anos afastado do cotidiano da empresa, depois de reduzir a sua participação a 36%, Guilherme Paulus apenas mudou o foco de atuação. Agora é hoteleiro, muito capitalizado graças ao caminhão de dinheiro obtido na transação com o grupo Carlyle. A partir da boa experiência com o seu Hotel Serrano em Gramado (RS), Paulus vem incorporando desde 2005 à sua rede novas unidades de todo o Brasil. Já contabiliza 19 hotéis, 13 em operação, dos 25 que quer implantar até 2014.
Mais que três letras reunidas que batizam a GJP Hotels & Resorts, há um forte simbolismo do estilo de gestão que o afável e intuitivo Guilherme Jesus Paulus imprime aos negócios.
Usa as suas iniciais como aval, em uma demonstração de comprometimento que promove a fusão do criador e criatura em um único ser. Afinal, ninguém dá o próprio nome a algo em que não acredita. "Tanto hotelaria como agência de viagens são a arte de tratar bem as pessoas," ele resume. Mas Paulus reconhece que hotel é bem mais complexo. Por isto buscou 90 profissionais experientes para cuidar da sua rede, com sede em Porto Alegre (RS).
O crescimento da GJP é exponencial. A cada momento surge algo novo, como agora, que acaba de vencer concorrências públicas para reformar e operar hotéis onde já funcionaram as aéreas Varig e Vasp junto ao aeroporto Santos Dumont (RJ) e construir unidades no aeroporto de Confins (MG) e Vitória (ES). Os três se somam ao do Galeão (RJ), a ser inaugurado neste ano.
A rede adota um modelo operacional peculiar, que dá ênfase à simplificação, marca registrada do dono. Funciona assim: primeiro Paulus usa o faro para captar negócios, e vai comprando conforme as oportunidades surgem. A seguir a equipe viabiliza o sonho e o transforma em realidade. Por exemplo, se Guilherme diz "vamos repetir o que fiz na CVC: abrir hotéis para todos os gostos", o time segmenta os ativos em unidades. Assim, o Saint Andrews, em Gramado, RS, virou luxo. Na categoria resort, entraram hotéis como o Costa Brasilis, em Santo André (BA), ou Aldeia das Águas, em Barra do Piraí (RJ). Há os voltados a negócios como o da Berrini (SP), o mais econômico tipo o Yak em Natal (RN), ou ainda hotel boutique, igual ao Aldeia das Águas, em Itacaré (BA).
Fugindo à regra, o Hotel Bahia (ex-Tropical) recebeu uma gestão diferenciada, tornando-se um Sheraton. "Pouco a pouco as unidades tem recebido marcas", explica Paulus. Vão atender assim a diferentes categorias, da sofisticada Wish às mais econômicas Prodigy e Linx.
A estratégia, que parece nebulosa, ganha contorno à medida que o modelo se consolida. Com a ocupação de 60% garantida pela CVC, somada a parcerias amealhadas ao longo da carreira, Paulus aposta no futuro da GJP com base em dez valores. Destacam-se acreditar no que faz e amor pela empresa. Não por acaso, três dos valores dizem respeito a tratar bem clientes. Algo óbvio, mas tão frequentemente menosprezado por prestadores de serviços.
*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 06 de fevereiro de 2013, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.