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Publicado: Terça-feira, 10 de maio de 2011

Hipertexto - ou reflexão sobre o fascínio

(Algumas considerações: eu abuso do uso da palavra “fascínio” e seus derivados no texto. Sendo enfática ou não, convido o leitor a uma reflexão (como propõe o título) cada vez que a palavra aparece.)

No ano de 1989 nascia esta pessoinha que vos escreve, hoje com pouco mais de 1,5m e um infinito de inquietudes na cabeça. Aos sete anos, ganhei meu primeiro computador. Mas antes disso, jogava “Mickey 1, 2, 3” no que tinha na casa da prima. O que tem de fantástico? Bom, além de ver o Pato Donald com cara de bravo porque a gente sempre comprava um hambúrguer a menos, é que em cerca de 15 anos trocamos as grandes máquinas dinossáuricas (neologismo, achei bonitinho) armazenadoras de dados por um simples tablet, que com o deslizar dos dedos te conecta a um mundo todo de informações. Lindo, né?

Tá. No meio do caminho, as pessoas descobriram a internet, o e-mail, o Google, o download e o compartilhamento de arquivos, os MP3, os blogs, fotologs, o YouTube, o MSN, as 9dades, o WiFi, o skype e as redes sociais.Se você tiver a minha idade ou menos, nada disso é novidade. Mas bastam alguns anos a mais para transformar o que eu chamo de “natural” a “fascinante”.

Não entendeu, ainda? Vem comigo.

Quando eu era pequena (sem piadinhas com o meu tamanho, ok?) e assistia aos Jetsons, eu realmente achava o máximo o Sr. Spacely falando com o George por aquela televisão que na verdade era um telefone (ou era o contrário?). E alguns anos depois, eu continuo achando legal, mas não acho fascinante, já que com um clic do mouse, eu posso entrar no skype e fazer uma videoconferência com a minha família que está a um oceano de distância de mim.Mágica? Não. Tecnologia. Fibra óptica. Kbites e internet.

Na verdade, o que me fascina é justamente o fascínio dos mais velhos – e aqui digo mais velhos do que eu – por toda essa coisa de web, texto e hipertexto. Tá, é MUITO legal poder compartilhar informações com um cara que tá em Taiwan do mesmo jeito que você compartilha com o vizinho. É tudo lindo, todos juntos num mundo só, na aldeia global (um beijo, McLuhan!), recortando, copiando, colando e compartilhando textos e fotos alheios.E aqui é o ponto em que eu queria chegar. Posso estar enganada – e quero muitos comentários sobre isto – mas penso que para a minha geração, a geração Chiquititas, Harry Potter, PushPop e Pokémon (os 51), nada disso é novidade!Nada disso é fascinante. Crescemos com o perfil do “Face” ou do “Orkut” ativado e não fizemos curso de datilografia para digitar mais rapidamente. É algo que está dentro de nós. Dentro de mim.

Talvez seja por isso que me fascinam a carta, a pena e o tinteiro, e o vício de ter diários, moleskines e canetas pretas para registrar meus textos. Quer dizer, eu amo a tecnologia, mas ela não me fascina, apesar de viver e transbordar em mim. Entende?

Talvez o fato de eu poder tocar tudo o que eu citei transforme a ideia em realidade e a realidade em fascínio (de novo). Porque por mais que seja sensacional, esplêndido, fantástico postar um texto no itu.com.br, eu não posso tocá-lo. E se vier o bug do milênio (lembra?) e sumir com todos os dados que eu dividi em todas as redes e sites que eu freqüento, meu eu virtual já era. É aquela história da nuvem, misturada com o mito da caverna (um beijo, Platão!): como eu vou saber se o que eu joguei na internet é real ou não? Totalmente seguro não é e isto todos sabemos (olá, hackers!). E que atire a primeira pedra quem nunca perdeu algo importante porque o “PC” “deu pau”.

Quer dizer (de novo), é o máximo falar pela webcam com o meu sobrinho de 6 anos. Mas é absolutamente sensacional, esplêndido, fantástico mandar uma carta pra ele e receber a resposta, sentindo não só a presença, mas a pressão da caneta no papel, a forma da letra. É uma maneira de saber que ele existe e não é somente uma sombra.

“É preciso repensar” diz o final do vídeo que ilustra este post e que eu peço e espero que todos vejam. 
A importância da web é indiscutível, e que isso fique bem claro.
Mas até que ponto é saudável para o homem – carne, osso, coração e cérebro – cercar-se de virtualidades e se acomodar com a caverna? 

Saludos, leitores.

E até o próximo link.

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