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Publicado: Segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Hino à vida

Nestes dias em que tantos se empenham em projetos contra a vida, especialmente contra os nascituros, foi um bálsamo para mim saber o que aconteceu com a norte-americana Susan Torres, pesquisadora da área médica. Em maio deste ano ela teve anunciada sua morte cerebral, provocada por um derrame decorrente de tumor que atingiu seu cérebro. Jovem ainda, mas em fase terminal de vida, os médicos que a trataram mantiveram-na artificialmente viva, pois estava grávida de 17 semanas. Eles prolongaram a sua vida até o sétimo mês de gestação, quando o feto se encontra mais bem formado. A pequena Susan Anne nasceu sadia, com 812 gramas, em uma cesariana. Desligados os aparelhos, a jovem mãe morreu logo depois de dar à luz no Virginia Hospital Center.

Meses atrás, encantou-me ver uma fotografia de certa mãe campineira com seus cinco filhos, nascidos de um único parto. Ao completar o primeiro ano de vida, todos receberam da comunidade o leite, as fraldas e as roupinhas de que necessitavam. A felicidade da mãe era visível e a tranqüilidade do pai impressionava. Caso raríssimo na reprodução humana, a providência de Deus não deixará faltar a esse casal pobre e seus cinco filhos, aquilo a que têm direito e lhes é necessário.

Também foi visível a mesma alegria do casal Leandro e Tatiana, ele jogador de futebol do time da Portuguesa, recebendo não apenas um, mas três filhos inesperados. “Foi uma grande felicidade e a minha vida mudou muito”, declarou o pai dos trigêmeos ao Estadão na página E-4 de 5 de julho passado. E pensar que a cada vez mais casais estão optando, egoisticamente, por um ou dois filhos, abrindo o próprio lar a cães, gatos e outros bichos!

Também merece referência uma edição da revista “Metrópole”, de Campinas, em que as informações sobre filhos excepcionais eram acompanhadas de fotos reveladoras do carinho que seus pais, e de modo especial as suas mães, lhes dedicam. Essas últimas diziam que não saberiam viver sem esses frutos do seu amor que haveriam de custar-lhes cuidados dobrados, mas que davam sentido às suas vidas de mães. E que jamais reclamaram de Deus por ter permitido que lhes nascessem filhos física ou mentalmente deficientes.

Esses casos me levaram a reler e entender o que escreveu a conhecida Madre Teresa de Calcutá, hoje elevada aos nossos altares: “A vida é uma oportunidade, aproveite-a. A vida é uma beleza, admire-a. A vida é uma felicidade, deguste-a. É um sonho, torne-o realidade. É um desafio, enfrente-o. A vida é um dever, cumpra-o. É um jogo, jogue-o. A vida é preciosa, cuide dela. É uma riqueza, conserve-a. A vida é um mistério, descubra-o. É uma promessa, cumpra-a. É uma tristeza, supere-a. É uma aventura, arrisque-a. É um hino, cante-o. É uma luta, aceite-a. A vida é a vida, defenda-a!”. Essa pequena mulher, sem beleza exterior e envelhecida no amoroso serviço aos pobres da Índia, deixou um rastro de luz por onde passou. Distante da Albânia, sua pátria, ela adotou com suas Irmãs da Caridade numerosos filhos nas capitais e grandes cidades de todo o mundo.

Por tudo isso, não consigo compreender o insano empenho de certos grupos, como o das “Mulheres Para o Direito de Decidir”, que ousam abusar do nome de “católicas” empenhando-se na defesa do aborto. E de médicos esquecidos do juramento que fizeram, de defender a vida, ficando tranqüilos e ricos com suas clínicas abortivas clandestinas. Também não entendo como um país continental como o nosso esteja oficialmente empenhado em descriminalizar esses atentados contra a vida de pequeninos seres que foram concebidos, estando onde têm o direito de estar, aguardando o dia em que virão à luz para realizar a própria missão.

E vem a petulante Nilcéia Freire, apoiada pelo ex-Ministro da Saúde Humberto Costa e a sua Comissão Tripartite, juntamente com certas pesquisadoras da USP e da PUC/SP, lutar pela ampliação dos casos de abortamento, sofismando com direitos reprodutivos da mulher - que foi feita para dar a vida — e a saúde pública, como se as agressões à vida dos embriões e fetos fosse um fato qualquer. Não dá para entender como tantos lutam em defesa de focas, micos e ararinhas azuis, golfinhos e baleias, pouco se importando com agressões à vida humana nos ventres de suas mães.

Que país é este que acabou instituindo o divórcio em 1977, causa da irresponsabilidade dos jovens em sua opção matrimonial e que já levou mais de cinco milhões de famílias bem constituídas a se desmancharem? Que desde 1940 não vê mal nenhum em despenalizar o aborto nos casos de violência sexual e risco de vida para as gestantes? Que insensivelmente passa a defender hoje o aborto de anencéfalos e quem sabe, mais adiante, em qualquer caso?

Quando tudo é relativizado, quando o fim acaba justificando os meios, quando o supérfluo sobrepõe-se ao necessário e ao conveniente, quando a esterilização estanca as fontes mesmas da vida, quando o casamento passa a ser descartável e a corrupção enlameia o meio político no país, quando aumenta o número de menores abandonados e moradores de rua, favelados sem casa, sem terra e sem pão, o que se pode esperar deste Brasil descristianizado e sem rumos?

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