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Publicado: Quarta-feira, 1 de março de 2006

Há solução para a Miséria?

Servindo a Igreja nos Meios de Comunicação Social, criei duas situações para visitas a um cortiço. Posteriormente viria a visitar várias das favelas de Jundiaí. Confesso que a situação das famílias me deixou envergonhado. Considerada uma cidade de boa qualidade, Jundiaí tinha há alguns anos 17 favelas. E o que dizer da cidade de São Paulo, com suas mais de 400 favelas? São a coroa de espinhos da grande capital. Felizmente, algumas foram urbanizadas com significativas melhoras.

Pode-se dizer o que quiser do mundo antigo e da Idade Média, porém não consta a existência de tanta miséria. Mesmo aos escravos não faltavam moradia e comida. Desde então vários séculos se passaram. Foi com a Revolução Industrial, no século XVIII, que se distanciaram insuportavelmente os ricos e os pobres. A urbanização e a criação de fábricas atraíram milhões de camponeses iludidos com as possibilidades de uma vida melhor, num mundo que tendia para um crescente desenvolvimento.

Surgiu assim o regime liberal capitalista, substituindo a servidão, a economia agrícola e artesanal, produzindo em série o que antes exigia o empenho de toda a numerosa família patriarcal. Por mais de um século predominou o capitalismo selvagem, com a exploração do trabalho de crianças e mulheres por até 14 horas ao dia, sem descanso semanal ou salário mínimo, trabalhando o operário em ambientes indignos e sem segurança. Nem pensar em férias remuneradas e em 13o salário...

A leitura de "O Pensamento Social Cristão Antes de Karl Marx", do jesuíta Fernando Bastos D'Ávila, deixa clara a preocupação dos bispos, padres e leigos, que desde a implantação do capitalismo predomina em todo o mundo industrializado. A dura e corajosa crítica feita por eles foi apresentada ao mundo em 1891 na histórica encíclica do grande Papa Leão XIII. A Igreja apontava nessa Magna Carta do Trabalhador os direitos do operariado urbano. Era um caminho original e uma proposta inovadora, partindo dos valores da caridade e da justiça. Surgia toda uma legislação trabalhista tutelando os direitos dos operários da indústria. É a proposta da Doutrina Social Cristã, bem distante do capitalismo explorador dos séculos XVIII e XIX.

Em 1848, Karl Marx e F. Engels lançaram o Manifesto do Partido Comunista, afirmando que a propriedade privada era a causa fundamental da "exploração do homem pelo homem". Era preciso um novo regime econômico que centralizasse os bens de produção nas mãos do Estado. Em sua teoria, o incentivo à luta de classes levaria a uma nova sociedade sem injustiças, em que todos teriam o necessário para uma vida digna. O marxismo ou comunismo foi implantado em 1917 na Rússia liderada por Lênin. A utopia deu no que deu: escassez de alimentos e miséria, descrença em Deus e ateísmo nas escolas. Foram milhões os mártires da fé.

Em setenta anos o comunismo espalhou-se por grande parte do mundo, o que tornou a União Soviética uma potência militar, composta por 18 Repúblicas integradas por força do Exército russo. Algumas delas eram de minoria católica, a maioria composta de cristãos ortodoxos. Todos os cristão foram perseguidos, pois era preciso acabar com a fé em Deus, chamado por Marx e Engels de "ópio do povo". Hoje sabemos que o comunismo fracassou e a Rússia é uma democracia que reencontrou seu caminho de liberdade e progresso. Porém boa parte dos países do mundo vive hoje uma nova situação de miséria: a riqueza nas mãos de uma minoria e uma grande maioria passando necessidades, numa sociedade que precisa urgentemente de menos desigualdade e mais amor, justiça e paz.

Sim, há um novo caminho, conhecido como a "terceira via", como opção ao capitalismo selvagem, ao liberalismo econômico e ao comunismo. É preciso continuar sonhando com a utopia possível de uma sociedade menos injusta e mais fraterna, onde os ricos partilhem o que lhes sobra, o Estado interfira moderadamente na economia, nos campos que lhe competem, respeitando a propriedade particular, tendo uma justa política tributária, investindo na erradicação dos bolsões de pobreza, bem mais do que é feito hoje. A Igreja aponta aos seus fiéis militantes na política - municipal, estadual ou federal - esses esperançosos caminhos de um mundo melhor e menos selvagem.

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