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Publicado: Quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Guerra na hotelaria

Em 1999, o então presidente da Coca-Cola Douglas Ivester revelou a um jornalista que sua empresa estava testando uma máquina de venda automática que aumentaria o preço do refrigerante à medida que o tempo esquentasse. A declaração soou como oportunismo, indignando o mercado e consumidores. Coincidência ou não, no ano seguinte Ivester vestia o pijama de aposentado. Se ele tivesse afirmado que a sua intenção era reduzir os preços sempre que esfriasse, diria a mesma coisa, só que agradaria em cheio.

Na verdade, o CEO da Coca-Cola nada mais fez que acionar a velha lei da oferta e procura, a mesma que neste instante irrita as empresas diante da intenção dos hotéis de implantar tarifas flutuantes. É que, seguindo uma tendência mundial e em pleno uso pela aviação e hotelaria internacional, as redes do setor pretendem instituir no País um modelo de acordo corporativo que leve em conta as variações de demanda.
Soando assim, nada mais justo. Em qualquer atividade comercial, do assento de avião aos produtos de feira livre, do parque de diversão à poltrona do cinema, maior procura faz o preço subir. O contrário também ocorre, se há excesso de oferta. No entanto, o problema, alegam as empresas, é que as tarifas em momentos de pico ficaram abusivas, e desse modo fica impossível planejar os gastos de hotelaria.

A competente gestora de viagens Eliane Martins, da Continental conta que pediu uma reserva corporativa para um mês em um hotel de luxo no município de São Paulo para o final deste ano. Foi surpreendida com uma diária em torno de R$ 300 que subia para R$ 1 mil no período da Fórmula 1. "O hotel não fez concessões", revela Eliane. Ela tentou, mas mesmo diante do argumento de que a reserva do hóspede era para longo período e o preço não podia variar três vezes mais por causa do evento automobilístico, Eliane não conseguiu.

A grande questão é se essa discrepância traduz uma regra geral de mercado ou é uma exceção. Roland de Bonadona, presidente da Accor, maior rede hoteleira do País, aposta na segunda opção. "Se as tarifas abusivas prevalecessem, os investidores teriam um rendimento tão alto que seriam estimulados a lançar empreendimentos, aumentando a oferta de hotéis, e o preço tenderia a cair".

Ele lembra os altíssimos investimentos para a construção de um empreendimento hoteleiro, somados aos custos de mão de obra e à alta carga fiscal, que elevam o custo de operação e precisam se pagar. Bonadona tem razão. Para que surjam novos hotéis, é preciso um retorno financeiro que atraia investimentos. Ou assistiremos eternamente ao mesmo filme: a escassez de hotéis faz os preços subirem cada vez mais.
Já que a tarifa variável é uma tendência irreversível, Eliane Martins propõe que as redes hoteleiras estabeleçam um desconto fixo sobre a tarifa que garanta uma diária mínima e máxima.

Na rede Accor isso já acontece, assegura Emanuel Baudart, diretor de Vendas, Distribuição e Marketing de Relacionamento da rede. "Para os contratos com tarifas flutuantes, os valores mínimos e máximos são definidos antecipadamente para o ano inteiro," diz Baudart.

E como fica a negociação das empresas com as demais redes hoteleiras? Com a palavra, Eliane: "É preciso bom senso de ambas as partes".

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 15 de dezembro, no Diário da Associação Comercial de São Paulo.

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