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Publicado: Segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Filhos para quê?

Gerar filhos e pelo menos plantar uma árvore seriam sonhos de todo homem e mulher na própria vida. Ter e educar os filhos são aspirações que todos deveriam ter. E isso vem acontecendo desde o primeiro par humano, geração após geração, até que ocorra a segunda vinda do Senhor, quando a história humana chegará ao fim sobre a face da terra. Há nas profundezas da natureza humana um clamor pela paternidade e maternidade física, biológica ou pelo menos espiritual. É irreprimível. Deus nos fez assim.

Nada a estranhar, portanto, que a absoluta maioria se sinta chamada para um encontro visando a construção de uma família e, por conseqüência, vocacionada para gerar e educar filhos. Estou usando a palavra no plural e não no singular, pelas razões que seguem. Esse é o plano de Deus que a minha Igreja e eu, pessoalmente, temos como um belo e amoroso plano divino. “Deixará o homem seu pai e sua mãe, unir-se-á à sua mulher e serão dois em uma só carne”.

São expressões fortes ouvidas no Gênesis, no alvorecer da humanidade. Elas encontram o seu complemento no “Não separe o homem o que Deus uniu” do Evangelho de Mateus e no magistério de Cristo nessa mesma mensagem: “Alguns não se casarão por amor ao reino dos céus. Quem puder compreender que compreenda!”. Sempre haverá, depois das opções virginais de Maria de Nazaré, de Cristo e dos Apóstolos, numerosos homens e mulheres dispostos a não constituírem um lar, levados por nobres motivos. A sua vocação, graça e responsabilidade é outra, muito importante.

Essas reflexões me ocorreram relendo uma bem elaborada reportagem publicada em página inteira no “Correio Popular”, de Campinas. Mostrava uma senhora da elite, mãe de dois filhos e dona de 11 cachorros. Cada um dos bichinhos custava-lhe por mês cerca de 300 reais. Até porque serviços públicos como vacinas aliviavam o investimento nos filhos, enquanto ainda não há Postos de Saúde e Prontos-Socorros para bichos.

Impressiona saber que a cada dia nascem menos crianças, multiplicando-se o número de cães e outros bichos de estimação nas famílias de classe média e alta. Têm um filho, quando muito dois. É por isso que me encanta ver um casal convivendo e brincando com três, quatro e mais crianças, o que continua acontecendo mesmo como exceção. Por outro lado, fico perturbado quando encontro nos parques e ruas pessoas caminhando com três ou quatro cães de raça. Onde vamos parar?

Já se sabe. Basta informar-se sobre o que vem acontecendo na Velha Europa, que nem merece mais o nome de cristã, que não preza as próprias raízes. Faltam crianças. Fecham-se escolas. Multiplicam-se as clínicas veterinárias. O resultado é que aumento o número dos idosos, falta a mão-de-obra nacional e a solução é importar imigrantes muçulmanos e investir no sistema previdenciário.

A maternidade é um milagre e até mesmo um mistério. Feita para gerar e dar a vida, a mulher leva sempre o maior peso da geração e educação dos filhos. O freqüente aconselhamento de casais, a convivência com outras famílias, firma sempre mais essa convicção pessoal que penso ser, também, dos que têm os pés na terra e não andam na estratosfera. Não nego ou minimizo o papel dos homens tanto no nascimento quanto na educação dos filhos que tiveram.Porém, perdem eles de longe para suas mulheres, especialmente quando se tornam mães. Não dá para compreender que se continue afirmando ser a mulher o sexo frágil quando, na realidade, é ela o sexo forte, que enfrenta sempre os maiores sacrifícios da vida e da maternidade.

O planejamento familiar, entendido como opção do casal, levando-o a ter somente os filhos que puder criar e educar convenientemente, é direito que a Igreja reconhece ser deles, o que não equivale, de modo algum, ao controle da natalidade, simplesmente não tendo filhos, fugindo à própria responsabilidade e descumprindo a missão que cabe aos que livremente construíram uma família. É o caso de reler a sempre oportuna e corajosa encíclica de Paulo VI, a “Humanae Vitae”, de 1968. É um hino à vida, uma apologia da vida e não como disseram e continuam pensando muitos, “a encíclica da pílula”. O saudoso Papa nem fala, explicitamente, no histórico documento, sobre esse método de controle da natalidade, sobre a esterilização feminina ou masculina, hoje tão freqüentes, integrando a política contraceptiva e anti-natalista da maioria dos países do Ocidente que ainda teimam em proclamar-se cristãos.

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