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Publicado: Sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ferramentas

Acabo de receber um belo anúncio por e-mail, de “ferramentas” elétricas e eletrônicas, da famosa indústria “Bosch”. Isto despertou-me nos recônditos da memória, aos meus já consideráveis anos de maturidade, aos 81 anos, a avidez aguçada, sempre presente, de minha habitual curiosa atenção para as coisas correlatas à imaginação, à tecnologia, à Filosofia, à Teologia.

Sempre gostei de ferramentas, desde criança, quando limitado pelos recursos financeiros de toda a família, considerada então de classe média, que não dispunha, nem podia proporcionar-me, nem que fosse de brinquedo, imitações ou enganosas “ferramentas de plástico”, porque então, talvez, não se tinha ainda inventado o plástico na forma em que hoje o conhecemos, porque ferramentas reais eram perigosas na mão de crianças, via-me condicionado então a usar a suprema ferramenta da inteligência infantil em formação e, a constituição psíquica de ductilidade e sã objetividade, para confeccionar alguns de meus próprios brinquedos (carrinhos feitos de restos de madeira de caixote; usando facas velhas dentadas fabricadas na soleira de cimento da porta, martelos improvisados com pequenas barras de ferro, atadas a hastes de surrados paus; imitação de ineficazes tambores de percussão, elucubrados de pequenas latas forradas em sua abertura com pedaços de tecido ou tela resistente, descobertos por acaso; remexendo, revolvendo os trambolhos guardados pela vovó, juntos a esmo nos recantos sagrados e secretos das coisas inúteis, à espera de alguma hipotética serventia futura ou azado dia; “telefones”, engendrados pela conexão de duas latas pequenas - tipo recipientes de massa de tomate ou leite moça - ligadas entre si por um fio de barbante fino e encerado, que esticado, reproduzia, ou se imaginava reproduzir, um som perceptível de conversa fiada).

Enfim, essas limitações naturais, essas condicionantes, foram-me dando afinal, vida afora, a instrumentalização, a concepção, do que mais tarde compreendi ser a mais importante e significativa forma pedagógica de desenvolver as condições básicas do raciocínio, inventividade e solução dos problemas, pequenos ou grandes, com que a vida inexoravelmente nos surpreende ou presenteia. Ou seja, os dons potenciais com que a hereditariedade e a natureza nos bafeja, e Deus nos contempla, criando-nos à “Sua Imagem e semelhança,” segundo os preceitos bíblicos, são testados e desenvolvidos, constantemente, quando as realidades em sanidade, salubridade, as provoca, instiga e desafiadoramente nos impele, nos constrange à competição.

Aí nos tornamos também criadores, FERRAMENTAS, intérpretes, instrumentos, meios vitais, colaboradores de Deus, na evolução, estimulando, induzindo, incitando, a sermos também documentos positivos de construção de uma civilização, tantas vezes cruel, que nos desafia ao crescimento, ao conhecimento, à evolução, à solução do adverso, na medida em que as dificuldades ou limitações nos perguntam, inquerem, açulam, provocam ou questionam. Não admitamos jamais ser peso morto, a dificultar a carga tão pesada a transportar, pelos caminhos clarividentes e incongruentes da História, em busca de superação e realização do ideal a advir do “Reino de Deus na Terra”.

Sejamos FERRAMENTAS testemunhais do que afinal aspiramos, da fé em que cremos, da democracia republicana que perfilamos, do BEM COMUM com que Deus nos inspira à FRATERNIDADE e IRMANDADE UNIVERSAL.

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