Publicado: Terça-feira, 20 de março de 2007
Férias em Santos
Este janeiro de chuvas entediantes e intermináveis me remeteu para outros janeiros, ansiosamente esperados, a época das férias em Santos.
Apartamento emprestado da família, a duas quadras da praia, que ainda era limpinha, areias sem lixo e águas sem esgotos.
Os preparativos para a viagem eram feitos com rigores militares, parecia que o passeio seria em outro planeta, tanta tralha que a turma precisava para passar os quinze ou vinte dias.
Um arsenal de baldinhos e pás, esteiras e guarda-sóis, remédios, mamadeiras, fraldas além de tudo que se possa imaginar que as oito ou dez crianças pudessem precisar durante as férias, mais as malas, mantimentos e brinquedos para distrair as noites.
Aqui é preciso dar nome aos bois, no caso, aos Leitão: a mãe e nós (acho que uns cinco, pois as duas irmãs mais novas ainda não tinham nascido), as irmãs da mãe, cada uma com um par de crianças, tia Minda e às vezes algum outro primo.
Carros carregados de traquitanas, estuporando de criança e malas, o pai e o tio na direção, lá ia a tropa descer a serra.
A viagem em si já era parte das (des) venturas, uma irmã enjoava com as curvas, tinha que parar no acostamento para ela se desfazer do café da manhã, o menor esbarrão virava tapas e beliscões e outra parada para o pai sapecar uns tapas nos brigões. E assim, muitas horas e paradas depois, chegávamos ao momento mais esperado, quando se podia avistar o mar no belvedere da estrada.
Na entrada do prédio, um vai e vem de gente subindo e descendo no elevador abarrotado de coisas, depois um lanche rápido no lugar do almoço e, finalmente... a praia.
No dia seguinte e por todos os outros dias, acordávamos praticamente com o sol para não perder um minuto, café engolido em pé, bonés em baixo do braço, mães arrumando cestas com lanchinhos diversos (de bananas e maçãs até biscoito de polvilho), começava o primeiro turno de praia que durava até a hora do almoço, lá pelas onze e meia.
Aí tinha que esperar o cochilo dos pequenos e a tarde já ia pelo meio quando saímos para passear pelo calçadão.
Essa rotina repetia-se diariamente, com poucas variações, o cinema bem mais moderno ao que estávamos acostumados, a visita ao aquário com seus peixes esquisitos e o passeio no bondinho. Mas a sensação maior era o parque de diversões quase no final da praia, um encantamento, todo iluminado e cheio de brinquedos. Dava para ver a praia toda do alto da roda gigante, eu ficava grudada na barra de ferro que prendia a cadeira, sem poder escolher entre o pânico pela altura ou o prazer do vento cheirando a maresia no rosto.
Tantas lembranças permaneceram, como os passeios de elevador, uma novidade para os caipiras, que inventavam qualquer desculpa para subir e descer a toda hora. O ritual de lambuzar as crianças antes de ir para o sol, embora naquela época nem existisse protetor solar. As espigas de milho comidas na palha verde, as grandes pipas compradas na praia, que imitavam águias e tinham como destino invariável o fundo do mar.
A tristeza na hora de voltar para casa, no último dia de praia todo mundo já estava de cara amarrada, menos as mães, estas certamente não viam a hora de voltar e enfim poder descansar um pouco....
Na subida da serra, o olhar derradeiro para a cidade lá embaixo, banhada em mar azul e sol, uma visão que nos embalava até o próximo janeiro chegar.
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