Colunistas

Publicado: Quinta-feira, 4 de março de 2004

Fatos, Frases e Reflexões

Agradeço a todos os que me lêem, as palavras de estímulo e aplauso que me dizem ou escrevem com freqüência. Os meus artigos semanais, escritos desde 1953, quando iniciei o meu serviço de jornalista, proclamando "oportuna e inoportunamente" a Palavra de Deus como manda o Apóstolo Paulo, sempre estiveram a serviço dos valores do Evangelho, da dignidade e dos direitos humanos, para a construção de "uma sociedade menos selvagem e mais humana" (Pio XII), "uma civilização do amor" (Paulo VI) e, mais recentemente, "uma globalização da solidariedade" (João Paulo II).
    Geralmente venho fazendo uma reflexão sobre determinado tema da vida da Igreja ou da sociedade, situando o problema em seu contexto mais amplo. A partir de agora, pelo menos uma vez por mês, refletirei sobre "fatos e frases". Hoje, por exemplo, faço referências às recentíssimas declarações do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, da demógrafa Elza Berquó, ao filme do conhecido cineasta Mel Gibson sobre a paixão e morte de Cristo e outros assuntos da grande mídia.
   
   Redefinição de valores universais
   
    FHC, com a reconhecida capacidade que ninguém nega, acaba de proferir palestra para 750 pessoas no Rotary Club de São Paulo. Entre outras coisas afirmou: "É preciso estabelecer um pacto entre os povos e não mais entre as nações, decantar um terreno em que todos estejam de acordo, chegando a uma redefinição dos valores universais". É exatamente o que vem fazendo a Igreja Católica há dois mil anos e, nos dias de hoje, o venerando Papa João Paulo II. Entre esses valores universais e inalienáveis estão a solidariedade e a justiça, a dignidade e os direitos humanos sem qualquer discriminação, Deus, a família e outros mais. Será que o ex-Presidente os desconhece?
   
   O filme de Mel Gibson
   
    Vem sendo manchete na grande mídia o filme do conhecido cineasta católico Mel Gibson, lançado mundialmente na última Quarta-feira de Cinzas. É dedicado às últimas doze horas da vida de Cristo. Destaco entre as suas declarações, as seguintes: "Meu intuito mesmo era fazer um filme sobre Jesus e seu sacrifício. Todos nós o matamos. Ele morreu pelos pecados de todos os homens e de todos os tempos. E, se você quiser, eu serei o primeiro da fila a aceitar essa culpabilidade. Mesmo antes de eu ter terminado de rodar o filme, balas de canhões estavam voando em minha direção. Estava sendo sumariamente pré-julgado e condenado". As principais cenas do filme foram apresentadas ao Papa e a grupos de líderes católicos, evangélicos e judeus dos EUA. Antes mesmo de ser projetado acabou levantando uma grande polêmica. Rabinos dos Estados Unidos vêm no filme um anti-semitismo que poderá criar novos problemas aos judeus. Nada como assistir o esperado filme, que logo mais estará sendo passado em nossos cinemas...
   
   Planejamento familiar e política de desenvolvimento
   
    A demógrafa Elza Berquó, diplomada pela PUC de Campinas, Presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, muito conhecida e respeitada por sua competência em questões demográficas, foi clara afirmando: "Propor controle de natalidade no Brasil é ignorar completamente o fato de que, no Brasil, a taxa do crescimento populacional vem declinando sistematicamente desde a década de 1970. É fácil dizer que as mulheres que recebem a Bolsa-Família (do governo federal) têm de ter menos filhos. Difícil é comprovar e não resolve nada... Uma política de população acaba intervindo, em última análise, no direito da pessoa ir e vir, de se reproduzir ou não. Esses dois elementos são básicos na questão demográfica. O Brasil não precisa de uma política demográfica. Precisa é de uma política do "desenvolvimento". Parabéns Elza Berquó!
   
   Clonagem de embriões humanos?
   
    Em editorial da página 3 da edição de 15 de fevereiro, "O Estado de São Paulo" deu um escorregão dizendo que proibir a clonagem de embriões humanos - o que fez a Santa Sé com a autoridade moral que tem - é o mesmo que ser contra a luz elétrica porque às vezes dá curto-circuito e produz incêndios. O leitor medite sobre a carta da cientista Sylvia Mendes Carneiro, do Instituto Butantã, de São Paulo, trabalhando no Laboratório de Biologia Celular: "A comparação da clonagem de embriões humanos com a luz elétrica não resiste a uma análise mais profunda. A vida humana em qualquer fase de seu desenvolvimento tem um valor intocável por si própria, enquanto a luz elétrica é valorizada por sua boa utilização. Não é preciso professar nenhuma fé religiosa, para entender que o processo de clonagem origina um ser humano no início do seu desenvolvimento, isto é, um embrião humano. Como bem lembrou a doutora Mayama Zatz "todos nós já fomos uma célula única". Há uma identidade entre o que fomos, o que somos e o que seremos. O que na realidade está em jogo é se é lícito ou não utilizar a vida de um embrião humano para fins terapêuticos...". Valeu a lição para o grande jornal. Não se tem o direito de brincar com a vida, que é sagrada desde o momento da concepção. Além dessas razões, é bom lembrar que Yan Walmut, que clonou a ovelha "Dolly", recorda que a ciência tem muitas dúvidas a esclarecer, até mesmo sobre a clonagem terapêutica...
   
   Medida provisória proíbe bingos
   
    Atente para o que está no editorial da "Folha de S. Paulo", de 21 de fevereiro: "Há diversas razões que justificam a proibição do bingo e das máquinas caça-níqueis no Brasil. Nenhuma delas, entretanto, parece ter sido mais importante para a decisão do Presidente Lula de vetar o jogo, do que o interesse em conter a propagação do escândalo envolvendo o ex-Sub-Chefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, que colocou o Ministro José Dirceu em posição extremamente vulnerável e abalou a credibilidade do governo... Na mensagem enviada pelo Presidente ao Congresso, por ocasião da abertura do ano legislativo, propunha exatamente o contrário. Tratava-se de legalizar os bingos!...". O editorial prossegue e vale a pena lê-lo por inteiro. A "Folha" acerta de quando em quando, especialmente quando os problemas não são mais éticos que políticos. Diante dos fatos sobejamente conhecidos e que ameaçam José Dirceu como Chefe da Casa Civil, alguém da oposição disse que "o PT perdeu a virgindade!..."
   
   Bonés e bandeiras do MST no Congresso Nacional
   
    "A Câmara teve uma atitude desprovida de sentido e absolutamente lamentável. É um absurdo homenagear um grupo que nem sequer existe juridicamente". A frase é do Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Já o deputado petista, muito conhecido, Luiz Eduardo Greenhalgh, disse do seu lado: "É um grande orgulho vê-los entrar nesta Casa com bonés, camisetas vermelhas e nossas bandeiras!". Entenda o leitor, se puder...
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