Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Excluídos entre os excluídos

Dia 20 de agosto último, os grandes diários de São Paulo, as rádios e informativos de televisão, davam destaque à chacina de numerosos moradores de rua da capital bandeirante. Foram trucidados impiedosamente, a golpes de ferro, seis desses pobres e sofridos irmãos, correndo sério risco de vida pelo menos outro tanto. Como existem moradores de rua, homens, mulheres e crianças, em outras capitais e cidades do Brasil, também nelas houve covardes agressões, com mortos e feridos.

Já sabia que na capital paulista os moradores de rua chegavam a cerca de dez mil. Uma verdadeira multidão de irmãos e irmãs sem teto e sem pão, sem segurança e, quase todos, sem esperança de um futuro melhor. É um grave problema que, ano após ano, veio sendo somado a tantos outros, como o dos menores de rua e dos camponeses sem a própria terra, dos indígenas um pouco por toda a parte, dos afro-brasileiros, dos incontáveis favelados, dos dependentes de álcool e das drogas. São milhões e milhões de brasileiros como nós, com a mesma dignidade de filhos e filhas de Deus, com os mesmos direitos relacionados na Constituição de 1988. São direitos e mais direitos desrespeitados e não exercidos por um terço dos brasileiros!

Vai ano, vem ano, mudam os governantes e a situação social de nosso Brasil está, a cada dia, mais difícil. Nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, tínhamos problemas. Porém, nem de longe, tantos e tão graves como os de hoje. A situação dos indígenas da Amazônia, do centro e do sul brasileiro, o número de famílias sem moradia e sem terra, a multidão dos favelados, as incontáveis crianças abandonadas, de menores vivendo nas ruas e praças de nossas cidades, os grupos de negros e mulheres discriminadas, os desempregados, os flagelados do nordeste, os alcoólatras e drogados, formam uma legião de excluídos. Constituem uma chaga viva no corpo de um país abençoado por Deus, que tem tudo para dar certo e, de 1900 para cá, está dando errado.

De Getúlio Vargas, passando por Juscelino Kubistchek, avançando pelos governos dos militares, entre 1964 e 1985, pelos governantes pós-revolucionários e democráticos como José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, a situação social brasileira nos situa entre as piores do mundo. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito plebiscitariamente, em meio a tantas esperanças, vem obtendo mais êxito na política internacional, na América Latina, África e Ásia, e na política econômico-financeira, que no corajoso enfrentamento das nossas mazelas sociais. É de envergonhar quem sabe que o Brasil conta com recursos ilimitados e um povo solidário.

Sim, é verdade que outros povos e países enfrentam diferentes problemas, como o do terrorismo, assassinando fria e cruelmente centenas e centenas de crianças e mulheres inocentes, como nestes dias, na cidade e escola de Beslan, na Ossécia do Norte, na Rússia, em Israel, na Palestina e na Espanha. Por lá, são milhares os mortos. Mas, por aqui, são milhões e milhões os que estão morrendo de fome, agredidos covardemente, vivendo em favelas indecentes e imundas. E o pior é que não se vislumbram caminhos de superação de tanto sofrimento e exclusão.

O dever de dar a todo cidadão o mínimo de dignidade, moradia, trabalho, saúde, escola e segurança é dos governos municipais, estaduais e federal. Mas eles continuam investindo milhões em obras faraônicas, como os Centros de Educação Unificada em São Paulo, os CEUs da Senhora Marta ex-Suplicy, em viagens internacionais intermináveis do Presidente Lula, em uma oposição irracional e infindável no Congresso Nacional, no centro do país. Sucedem-se planos e mais planos, promessas e mais promessas e já estou antevendo que morrerei sem ver o Brasil menos desigual, mais fraterno e justo pelo qual venho sonhando e trabalhando.

Conforta-me que a Igreja, a minha Igreja, silenciosa e discretamente vem dando, há décadas e décadas, um belo exemplo de quem realiza muito com poucos recursos, na Pastoral da Criança e do Menor, da Saúde e da Moradia, da Mulher Marginalizada e do Idoso, na recuperação de alcoólatras e drogados, no atendimento a órfãos, aidéticos e velhinhos. E, também, no acolhimento e superação dos graves e dolorosos problemas vividos pelos moradores de rua, excluídos entre os excluídos.

O eminente Cardeal de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, em recente artigo sobre “A chacina de moradores de rua” (Cfr. O Estado de São Paulo, de 1o de setembro pp. à página A-2), relacionou sete importantes obras da Igreja, na capital do Estado, dedicadas ao acolhimento, à qualificação profissional e reintegração social de centenas e centenas de moradores de rua. Em Jundiaí, para apenas dar mais alguns exemplos, a Igreja administra o Serviço de Obras Sociais (SOS), mantém a Casa Santa Marta e o Projeto Lázaro. Nessas obras todos, todos os moradores de rua da cidade, têm onde dormir e alimentar-se, direito a banho, corte de cabelo e roupas. Mais importante é o Projeto Lázaro, que acolhe moradores de rua alcoólatras e drogados, ensinando-lhes uma profissão, reinserindo-os em suas famílias e na sociedade. Isso sem falar no exemplar e amoroso trabalho dos(as) voluntários(as) das atuantes Pastorais da Criança, do Menor, da Mulher Marginalizada e da Moradia a elas dedicadas. O momento eleitoral que estamos vivendo e que nos levará às urnas em 03 de outubro, dê-nos a sensatez de votar nos melhores candidatos às nossas Câmaras e Prefeituras. Só merecem o nosso voto os honestos e incorruptos, os capacitados para o mandato pleiteado, os comprometidos com os excluídos e marginalizados das nossas cidades. Eleja o nosso eleitorado candidatos verdadeiramente empolgados e comprometidos com a dignidade de todos, os direitos humanos e os valores sociais do Evangelho.

Comentários