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Publicado: Sábado, 4 de outubro de 2008

Eu outro nós

Crédito: Arquivo Pessoal Eu outro nós
O Sol e a Lua se encontram no fulcro da balança. Uma nova Lua se apresenta para todos nós. É o tempo lancetar sementes em busca do ponto de equilíbrio nas relações humanas, entre o "eu" e o "outro": o "nós". Mas quantos nós nos impedem de viver esse encontro! Entre eles, os limites do próprio ego.

Aprender a conjugar o nós é uma arte, a arte do eu com outro, eu c/outro - encontro: a arte da composição. Mesmo a mais dura pedra, como o Monte Cristal, na serra do Caparaó, é capaz de compor, em sua elevação, com variadas espécies de vegetação. Porque nós, seres humanos, temos tantas dificuldades de conviver com as diferenças? Seja por cor da pele, se é marrom ou cor de rosa, seja por diferentes credos sob um mesmo Deus, ou pelo gênero masculino e feminino, ou ainda por idade, por classe social, encontramos toda variedade de motivos para divergirmos, dissociarmos e nos enquistarmos na verdade própria.  E da intransigência não arredamos pé, como se apenas houvesse um único ponto de vista acerca dos fatos. É preciso transigir. Deriva daí o símbolo da balança. Pesar nos dois pratos as diferenças para compor o que vale a pena ser conjugado pelo “nós”. 
 
O “nós” é a terceira força que se constrói ao longo dos anos, em uma relação. Acordos, desacordos, de muitos tratos e contratos, alguns tácitos, outros explícitos, nasce uma resultante, e ao mesmo tempo uma consonante que agrega, integra as diferenças e promove a união. Nem eu, nem o outro: nós! Caso contrário é inevitável a separação, a falência do "nós". Ou se desfazem os nós ou se desfaz a relação. O nó que amordaça - amor-daça o próprio ego, o amor fica aprisionado, enquistado, é o mesmo que impermeabiliza, isola, impede a troca, e paradoxalmente expõe o que procurava ocultar, a própria limitação: reconhecemos o outro não pelo que afirma, pelo que diz, mas pelo que não é capaz de assimilar, ou perceber, e interagir. O “nós” cresce como a semente de uma árvore, plantada em terra fecunda, mas que precisa ser regada no dia a dia. É a terceira força, quase sempre invisível, que nos tira do impasse das divergências, da anulação da individualidade dentro de uma relação, e aponta na direção de saídas consensuais para os impasses, sem julgamento, sem condenação. A terceira força é a ação misteriosa em direção à descoberta de nós mesmos, que acende o fogo, liga a luz, traz o filho, faz a roda girar, nos liberta da polaridade e das tensões naturais entre o "eu" e o "outro".
 
“Em primeiro lugar, quando a jornada começa, também se inicia uma experiência maravilhosa com um Outro misterioso.

Em segundo lugar, enquanto progredimos pelo caminho, haverá sempre um esforço de união ao Outro misterioso.

Em terceiro lugar, no ponto de realização, compreendemos que nunca existiu o Outro.” (padre Thomas Keating)
 
O nós que liberta é o nós que confia, e como fio da meada revela a trama das fiandeiras do destino, estabelecendo novas ligas nas relações.
 
Experimente, a partir dessa nova Lua de Libra, conjugar mais o nós, usar a primeira pessoa do plural. Vamos à festa? Vamos ao cinema? Ao invés de: - Você quer ir à festa? Você quer ir ao cinema?  Quando usamos a primeira pessoa do plural estamos nos inserindo de coração na intenção da própria proposição, sem reservas, sem estratégias, sem nos colocar numa posição reativa, ou gerar oposições. Já explicitamos nosso real desejo de fazer junto, de fazer parte, de participação.
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