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Publicado: Sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

E.T., O Extraterrestre

Apenas um marciano jamais teria ouvido falar de “E.T., o Extraterrestre”, uma das obras mais conhecidas do famoso diretor Steven Spielberg. Em todo o mundo, a história de amizade entre um garoto e um alienígena bonzinho conquistou corações por seu enredo cheio de ternura.
 
Lembro-me de ter assistido “E.T.” no cinema, levado pelo meu pai. Foi no antigo Cine Boni, do qual alguns ituanos ainda se devem lembrar. Desde então, revi o filme várias vezes. Algumas foi por locação e outras em reprises na televisão. Ou seja, não se trata de uma história nova para mim. Entretanto, concordo com os que argumentam dizendo que nunca se lê o mesmo livro da mesma maneira. Tal teoria deve valer para filmes e músicas também.
 
Dias atrás, gozando de relativas férias de novo ano, fiquei sem ter o que fazer em casa. Nessas situações me vejo diante da televisão. Como não é um hábito meu assistir à TV, acaba sendo algo diferente. Foi em uma dessas que vi partes de “E.T.” novamente. Peguei o filme já nas cenas finais, mais especificamente em uma de perseguição. Uma turma de garotos foge de policiais para levar ET para a floresta, onde partirá rumo a seu planeta de origem. À frente, o ator-mirim protagonista, levando o alienígena na cesta de sua bicicleta.
 
Os garotos pedalam de verdade, subindo calçadas e pequenos morros. Fazem curvas perigosas, passam por terrenos baldios de terra e mato. Desviam dos carros da polícia, separam-se e se reagrupam. Nos anos de 1980, um dos sonhos de consumo da criançada era a tal da Caloi Cross, bicicleta arrojada utilizada pelos garotos do filme. Depois viria a Mountain Bike, mas isso já é dos anos 1990 e fica pra outra ocasião comentar.
 
Voltando ao filme: o grupo de ciclistas pedala e foge por ruas e mais ruas. Finalmente, quando pensavam terem se livrado dos perseguidores, várias viaturas aparecem bloqueando a rua lá na frente. A tensão se instala para o espectador. O que acontecerá? Mesmo cercados e na iminência de um choque, os garotos continuam firmes na pedalada. A câmera fecha um close no rosto de ET. Seus grandes olhos azuis se arregalam e ele esboça um sorriso, como alguém que acaba de encontrar uma solução milagrosa.
 
Tomadas as devidas proporções comparativas, foi mesmo um milagre o que aconteceu na sequência. Pouco antes de baterem nas viaturas da polícia, as bicicletas saem voando e deixam definitivamente para trás, e lá embaixo, os seus perseguidores. Eles voam rumo à floresta e suas silhuetas contrastam com a lua: uma das cenas mais conhecidas do cinema em todos os tempos. Parece bobagem, mas me emocionei. Em fração de segundos, uma metáfora relampejou em meu pensamento e causou lágrimas.
 
Assim como os garotos do filme, também nós vivemos “pedalando” diariamente, para escapar dos que nos perseguem, sejam pessoas ou situações. Às vezes nos vemos “cercados” por barreiras intransponíveis e nos sentimos ameaçados, entristecidos, sem saída.
 
Pois a mensagem do filme spielberguiano é clara: por maior que seja a barreira à sua frente, continue pedalando! Não parar de pedalar, não desistir do sacrifício por um bem maior, é prova de uma esperança íntima que nos move a todos. E penso que talvez seja essa esperança uma das grandes responsáveis pelo progresso da humanidade.
 
Se continuamos a pedalar, podemos manter a esperança de que um milagre aconteça em breve. Se os garotos de “E.T.” desistissem e parassem, suas bicicletas jamais teriam voado contra a lua. De tantas mensagens que este filme possui, sobre amizade e ternura, sobre diferenças e igualdades, foi esta a que desta vez me emocionou e fez pensar.
 
Amém.
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