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Publicado: Quinta-feira, 12 de maio de 2016

Estranhos no Paraíso (1984)

Estranhos no Paraíso (1984)

Falar do cinema independente americano é falar de Jim Jarmusch um símbolo maior desse movimento, com filmes pouco eventuais e pulando de tema para tema, ele consegue concentrar ótimos roteiros e também uma excelente direção que poucos diretores conseguem. O interessante de Jarmusch é como ele altera os temas dos seus filmes, desde samurais modernos, vampiros em crise de personalidade até um estranho de meia idade tentando achar seu filho.

Um dos seus primeiros filmes foi o excelente “Estranhos no Paraíso”, lançado em 1984 ele foi pensado primeiro como um curta-metragem, mas vendo algumas sobras de negativo ele decidiu transformar em um longa-metragem, coisa que já fez também com outro excelente filme que é “Sobre Cafés e Cigarros” de 2003.

Jarmusch apesar de ter estudado cinema em “Nova York”, ele se inspira em diretores europeus e asiáticos, como o próprio Bergman, Ozu e Kurosawa. Principalmente a estética adotada nesse filme que é bem parecida com a de Bergman, ao retratar o espaço vazio que cerca os seus personagens e combina com as personalidades deles que são eufóricas, perdidas e até banais em certos momentos. Uma coisa muito legal e que ele usa basicamente em todos os seus filmes é trilha sonora pouco convencional e também o fato de ser um som diegética, e poucas vezes a trilha não é incidental. 

A história acompanha a vida de Willie (John Lurie) um malandro húngaro que mora em Nova York, mas rejeita sua descendência e assim não liga pelo tédio em que vive. Não tendo um emprego fixo, ele sobrevive de apostas de cavalos e trapaceando no pôquer para ganhar algum dinheiro. Um dia ele recebe a visita da sua prima que chegou da Hungria e vai passar alguns dias com ele, os dois parecem se encaixar já que ela também não liga para o tédio na vida de Willie e mesmo querendo ou não vive só no apartamento do primo. Eva (Eszter Balint) depois de um tempo vai morar com a tia em outra cidade.

O filme tem vários cortes, que aceleram o seu tempo, ou até algumas situações. Nisso se passa um ano e vemos que a vida de Willie continua a mesma coisa. Mas então ele consegue algum dinheiro trapaceando no jogo e junto com o seu amigo Eddie (Richard Edson) eles resolvem fazer uma viagem de carro. Willie, então decidi ir visitar sua prima. Assim eles partem até a cidade onde ela está. Quando eles chegam na cidade, rapidamente eles mudam de idéia e mudam de rumo e querem ir para Flórida, e assim voltam e pegam Eva e partem novamente. O roteiro talvez se prejudique nisso pela própria personalidade dos personagens que são inquietas e não sabemos o que eles vão fazer, e assim é realmente uma surpresa qualquer reação deles em tela.

Com um final desencontrado entre os personagens é interessante como se aborda tudo. Primeiro temos Eva que “ganha” uma grana e decidi ir para Europa, mas também fica perdida entre viver na América ou voltar ao seu País, ou até Willie que apesar de aparentar ser uma pessoa difícil, tenta buscar sua prima no aeroporto, mas quem acaba embarcando para o seu lugar de origem é ele mesmo, então Willie embarca para a Hungria, Eddie volta para Nova York. Então é normal vermos essa realidade desencontrada em seu filme, onde todos tomam um caminho diferente, mas acabam no tédio. É como uma frase que Eddie fala quando chegam à cidade onde Eva está. Ele diz: - Você vai para um lugar novo, mas tudo parece igual. E de um jeito debochado, ou até para não pensar na sua situação de vida Willie responde ironicamente, “É mesmo Eddie?”. É engraçado ver como eles são pessoas que conseguem ter grandes reflexões da vida só com olhar, mas ao se expressarem nunca dizem alguma coisa boa.

É normal vermos esses tipos de personagem no universo do diretor, então se acostume em encontrar personagens assim, que mesmo no primeiro olhar são desagradáveis e rasos, aos poucos eles se muda e transforma a história de uma forma única. Jim Jarmusch é assim, um diretor genial, que trabalha no seu ritmo e consegue nos contar belas histórias com personagens que na vida real não iríamos dar a mínima. Ainda bem que existe o cinema independente e ainda bem que temos Jim Jarmusch.

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