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Publicado: Quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Estrada

Estrada
Escultura de Robin Wight

Quisesse alcançar equilíbrio financeiro, tinha que fazer a coisa certa. O cigano exigiu vinho pouco amargo mas não muito fraco. Pediu também um cigarro de menta e algumas frutas bem doces no alguidar. Ao final, o cambono dobrou o papel com as orientações e o deitou vivo, pulsante, nas mãos dela, que saiu às pressas para tomar o primeiro ônibus que passasse. Alcançou o Taylor’s na prateleira, abraçou forte contra o peito e partiu para a fila do caixa. “Passe no crédito, por favor... Se eu quero o melhor, tenho que ofertar o melhor”. A placa já dizia “limite de município”. Os carros escorriam de uma faixa para a outra, na euforia das ultrapassagens. Ela forrou o pedaço de grama do acostamento com uma folha de bananeira, juntou as coisas, fez uma oração e voltou para casa. Bateu o pé três vezes na soleira da porta, convidou as entidades e entrou. Foi seca para a cozinha botar um pedaço de pão, que fosse, no fundo do estômago. Dentro da gaveta de facas, a carta do SPC lhe cortou o coração.

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