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Publicado: Terça-feira, 16 de novembro de 2004

Espírita: Ser ou não ser?

É oportuno e importante deixar claro que tenho bons amigos entre pastores protestantes, fiéis ortodoxos, rabinos judeus, espíritas e maçons. Sempre agradeço a Deus o meu jeito de ser, a facilidade de comunicação e o bom relacionamento com os que pensam diferentemente de mim, não pertencem à Igreja católica, não sintonizam com os valores em que acredito, pelo quais sempre me empenhei em artigos e livros, homilias e palestras.

As poucas dificuldades encontradas em meus 53 anos de sacerdócio foram com alguns bispos e sacerdotes radicalizados ideológica e pastoral, social ou teologicamente falando. Nesses anos fui honrado com visitas e amizades de pessoas de outra fé, com diferentes valores e opções em suas vidas. Falei e fui atentamente ouvido em templos evangélicos e lojas maçônicas, recebido com o respeito que deve haver entre pessoas com boa educação e inteligentes.

Essas experiências em minha longa vida ministerial nunca me impediram de proclamar, claramente, a minha fé, os valores éticos e morais em que acredito. Ouvido atentamente, nunca me neguei a responder a qualquer pergunta, mesmo que diretamente contrária às minhas convicções.

Nestes últimos anos, bem recentemente, estou incomodado com a apostasia de um ou outro católico, com as inconvenientes atitudes do Grupo de Mulheres Católicas (sic!) Pró-Aborto, com as deslealdade de alguns e os falsos posicionamentos de outros irmãos. Continuarei proclamando, enquanto me for possível, serem inconciliáveis, em muitos pontos, a fé e a moral católica com a dos protestantes, as crenças do islamismo, do judaísmo, do espiritismo e da maçonaria, com o “complexo anti-romano” de alguns, o anticlericalismo de outros, a vã tentativa de conciliação entre a fé católica, o ideário e conduta maçônica, a ilusória afirmação de uma conciliação entre catolicismo e marxismo, cristianismo e kardecismo.

Nesse contexto mais amplo, venho lendo e relendo quanto tem sido escrito e divulgado em alguns jornais da cidade de Jundiaí e Itu, por ocasião da recente comemoração dos 200 anos do nascimento de Allan Kardec. Na realidade, o verdadeiro codificador do espiritismo não foi Kardec no século XIX, mas León Hypolyte Denizart Rivail, nascido em 03 de outubro de 1804. Equivocado, certo jornal que leio regularmente afirma que o francês León Hypolyte teria adotado o “pseudônimo de Allan Kardec”!

É um enorme equívoco, pois na realidade o professor de fisiologia, química e física no Liceu Polimático da França, acabou acreditando ter-se “reencarnado” nele, o espírito de Allan Kardec, poeta celta, ao que consta, que teria vivido séculos antes Crsito. Os dois principais livros que escreveu entre 1824 e 1846, difundidos à farta pelos espíritas do Brasil — O Evangelho do Espiritismo e o Livro dos Espíritos — contêem, segundo afirmam e piamente acreditam espíritas esclarecidos, uma terceira e nova revelação divina, muito diferente da revelação mosaica e cristã. O espiritismo seria, portanto, uma nova religião sincretista.

Não desejo polemizar com ninguém, com nenhum espírita, até porque respeito a todos e tive em minha família um tio e uma tia espíritas, dedicadíssimos a obras de caridade, muito amigos meus. Mas é preciso ficar bem claro que cristianismo, catolicismo e espiritismo são em si mesmos inconciliáveis. É contraditório alguém afirmar-se católico e, ao mesmo tempo, espírita. Muitos o fazem cotidianamente porque, certamente, desconhecem a própria fé e, talvez, até mesmo os livros de Allan Kardec, na realidade León Hypolyte Denizart Rivail.

Fique bem claro que todos continuam tendo a liberdade de acreditar naquilo que desejarem, podendo pensar e falar o que quiserem, assumindo, é claro, as próprias responsabilidades diante da sociedade e de Deus. Os cristãos e católicos acreditamos na Santíssima Trindade, na humanização do Filho de Deus, em sua morte redentora, numa Igreja por Ele fundada, cuja missão é prosseguir evangelizando, batizando e ensinando tudo o que Ele mandou. Fomos todos redimidos pela morte de Cristo.

Os irmãos espíritas esclarecidos, não admitem a Santíssima Trindade. Crêem em Deus, porém, negam a encarnação ou nascimento do Verbo, Filho de Deus, Jesus Cristo. Também não admitem o Espírito Santo como uma pessoa divina, igual ao Pai e ao Filho. Cristo para os espíritas conscientes não passa de um grande “médium”, talvez o mais importante de todos. Não foi nem é uma pessoa divina, que assumiu a natureza humana no ventre virginal de Maria de Nazaré. Os milagres que fez e a doutrina que proclamou, a santidade de sua vida, não provam a sua divindade. Ele não ressuscitou.

Nessa linha de desencontro com verdades fundamentais da fé cristã, Jesus Cristo não foi o redentor de todos, pois para os kardecistas conscientes não há nenhuma necessidade de um redentor. Cada qual se purifica e redime em sucessivas reencarnações neste ou em outros mundos habitados, em outros corpos de homens ou mulheres e até mesmo, segundo alguns espíritas, em espécies animais. Para uns as reencarnações sucedem-se indefinidamente, para outros até uma purificação total, que terminará em uma diluição despersonalizada e panteísta na divindade...

Os nossos irmãos espíritas usam e abusam do nome de Cristo, sendo repetitivos quanto ao mandamento do amor fraterno, ponto central do magistério de Jesus, Filho de Deus. Menos mal! Assim fazendo, assimilaram algo importante da mensagem e moral cristã. Porém, não aceitam uma Igreja fundada por Jesus Cristo, a autoridade dos Papas e Bispos, seus Pastores, nem a íntegra da mensagem cristã que para nós é portadora da definitiva revelação divina feita vinte séculos atrás...
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